Montevideu, Uruguai
Considerado o mais longo do mundo (teve o seu início já na segunda quinzena de Janeiro e apenas termina nos primeiros dias de Março), o Carnaval da capital uruguaia encontra as suas raízes nas mais diversas correntes imigratórias — mas especialmente espanholas e africanas.
Vários são também os desfiles de rua, com especial destaque para o Desfile Inaugural e o Desfile de Llamadas (teve lugar nos dias 9 e 10 de Fevereiro); este último movimenta 40 sociedades que percorrem as ruas dos bairros Sur e Palermo, um espectáculo de cor ritmado pelos sons dos tambores (chico, piano e repique) e intimamente ligada ao candombe, uma dança com atabaques (instrumento musical de percurssão).
Reconhecido pela UNESCO em 2009 como Património Oral e Imaterial da Humanidade, o candombe surge com a chegada dos escravos a Montevideu e é uma fusão entre música e letras, a maior parte delas fazendo referência às duras condições de vida e à miséria que enfrentaram, durante séculos, os seus descendentes.
Porto Espanha, Trindade e Tobago
Calcula-se que não menos de 300 mil pessoas se reúnem em volta do Queens Park e do Estádio Nacional para assistir a dois dias (segunda e terça, antecedendo a Quarta-feira de Cinzas, se bem que os festejos têm o seu início duas semanas antes) de celebrações exuberantes, cujo ponto alto são os cortejos. Nesses dias, todas as cores do mundo vestem a cidade. A tradição do Mas começou em finais do século XVIII, quando os donos das plantações, de nacionalidade francesa, decidiram organizar bailes e promover o uso de máscaras antes de se entrar no período da Quaresma. Os escravos, privados de participar, criaram um acontecimento paralelo, ao qual chamaram Canboulay (resulta da dificuldade em pronunciar cannes brulées — canas queimadas), na verdade o pioneiro do actual Carnaval que, anualmente, anima as ruas de Porto Espanha — mas, de igual forma, um desafio face ao jugo que lhes era imposto pelos senhorios. O Canboulay teve também forte influência no desenvolvimento da música em Trindade e Tobago e pode, com a dinâmica que o caracteriza, considerar-se o responsável pelo efeito de contágio que provocou noutras ilhas da região.
Binche, Bélgica
Todos os anos, o Carnaval da pacata cidade de Binche, reconhecido pela UNESCO como Obra-Prima do Património Oral e Intangível da Humanidade, atrai mais de cem mil visitantes, bem como cerca de um milhar de actores. O gille é o ícone desta manifestação colorida e exótica que se prolonga por três dias e as suas origens são no mínimo misteriosas. De acordo com uma lenda, os incas terão participado, na primeira metade do século XVI, nas festividades organizadas por Maria de Habsburgo (também conhecida como Maria da Hungria) para receber o irmão, Carlos V, e o sobrinho, Philippe II; os habitantes terão apreciado de tal forma as cores dos trajes que resolveram perpetuar, anualmente, os cortejos pelas ruas de Binche.
Basileia, Suíça
As origens do Fasnacht são obscuras, em parte devido ao forte terramoto que abalou a cidade suíça em 1356, destruindo uma parte substancial do arquivo histórico. O documento mais antigo remonta à Quarta-feira de Cinzas de 1376, reportando um duelo entre alguns cidadãos e cavaleiros, tendo a Münsterplatz como cenário. A argumentação de uns e outros subiu de tom e resultou na morte de quatro nobres e a retaliação não se fez esperar — 12 desses residentes foram decapitados e o imperador Carlos IV impôs um bloqueio à cidade que, desta forma, deixou de beneficiar da protecção do Sagrado Império Romano.