Albane, francesa de Paris, já tinha sido florista de uma forma mais convencional. Primeiro em Bruxelas, ajudando um amigo (que fez os ramos que aparecem no filme Marie Antoinette, de Sofia Coppola), depois em Lisboa, trabalhando para um francês “que foi inovador aqui em Portugal”. Chegou a ter, com um sócio, uma loja no Arco do Cego. Fazia o que a maioria faz: comprava as flores a fornecedores, ia ao mercado escolher, tinha um stock e com isso compunha os seus ramos. Depois abandonou o negócio e ficou vários anos dedicada a outras coisas. “Mas tinha o Luís a dizer-me ‘Porque é que não voltas às flores? Porque é que não voltas às flores?’”
O regresso é contado por ele (já agora: a sua actividade nesta altura da história era fazer efeitos especiais para filmes, sobretudo de publicidade. “Passava a minha vida num escritório, à frente de um computador”): “Namoreia-a durante mais de um ano e quase todos os dias lhe oferecia flores. Ao princípio comprava-lhe ramos e quando começavam a envelhecer ela refazia-os. Às tantas, em vez de ramos comecei a oferecer-lhe molhos, que comprava nas floristas.” Agora Albane, com um leve sotaque francês, porque entretanto já passaram 22 anos desde a sua chegada a Portugal: “Entretanto, começámos a ter outro tipo de preocupações a nível ambiental, e apercebemo-nos de que não fazia grande sentido estar a comprar constantemente flores, produtos que eram transportados por avião, produzidos de maneira intensa, nem sempre com boas condições, nem para o trabalhador nem para a terra. Muitas das flores vêm da Holanda, mas a Holanda é [também] um distribuidor. Muitas delas são produzidas em África ou na América do Sul, onde as leis ambientais são muito permissivas e onde a mão-de-obra é barata. Isso começou a criar-nos confusão.” Novamente Luís: “De repente deixámos de ter flores em casa. Eu deixei de comprar. Mas começámos a ficar em falta — tristes. E comecei a insistir muito com a Albane para ela voltar a trabalhar com flores. Tentámos arranjar uma forma de as ter mas contornando estes problemas.”
Apareceu a casa e foi crescendo o projecto KCKliKO (escrita fonética da palavra ‘coquelicot’ (papoila); o ‘c’ deveria ser invertido). Passaram um ano em ensaios, a contactar vizinhos, a ver quanto tempo as flores duravam em jarra, qual era a adesão dos potenciais clientes. “Inicialmente propusemos comprar, mas ninguém nos queria vender. São pessoas apaixonadas por flores, não são profissionais. Vamos lá porque queremos só uma flor e passamos três quartos de hora na conversa. Saímos com a flor e mais dois ou três vasos, um rebento de não sei quê, uma estaca... Acabamos por nos tornar amigos. O que fazemos é oferecer ramos de flores. É uma troca.”
Este não é um trabalho como os outros. “Hoje em dia, é sempre possível encomendar qualquer flor a qualquer altura do ano. Mas quando começamos a trabalhar com as flores de jardim e vamos bater à porta dos vizinhos, começamos a ser muito selectivos. Não cortamos uma flor a não ser que haja uma coisa muito específica para fazer. Se não temos um pedido, é completamente gratuito ir cortá-la.” E por essa razão não têm stock.