Identidade brasileira
A visita à casa é complementada com informação sobre a obra de Lina Bo Bardi, ainda que através de livros. É assim possível ver a sua evolução enquanto arquitecta, percebendo que nunca se deixou tomar por nenhuma escola, adaptando o estilo ao projecto. Estando numa casa rectilínea, vemos projectos baianos, como a Casa do Chame-Chame, de linhas fluídas; ou o Solar do Unhão, recuperação de uma antiga fazenda do século XVI, com todas as suas dependências, incluindo capela, senzala, aqueduto, alambique, para albergar o Museu de Arte Moderna da Bahia, em que Lina, que também foi a sua primeira directora, deixa os espaços históricos limpos e vazios. Vemos ainda a “igreja redonda” de Uberlândia (Minas Gerais) — nome oficial, Igreja Divino Espírito Santo do Cerrado — ou a Casa Cirell (São Paulo), onde a geometria se dilui nos materiais utilizados em simbiose total com a natureza. Regressamos às linhas direitas no SESC Pompéia, onde os edifícios da antiga fábrica de tambores mantiveram a sua traça industrial limpa no interior, tendo o projecto sido completado com duas torres de betão, tudo para construir uma zona de cultura e lazer, que inclui desde teatro a instalações desportivas. Do MASP, um dos edifícios mais reconhecíveis de São Paulo, em plena Avenida Paulista, percebemos os princípios similares aos da Casa de Vidro. Um volume maciço, neste caso de betão, assente em pilares, transparente e vermelho — mas aí com a ausência de colunas no interior.
Esta revisão da obra arquitectónica de Lina Bo Bardi serve para mostrar como ela se moveu com à-vontade entre o modernismo e arquitectura popular, sem qualquer linha cronológica. O seu princípio sempre foi adaptar-se ao contexto, deixando-se imbuir pelas tradições locais, com um olhar quase antropológico, que adaptava aos conceitos mais modernos. O que acabou por traduzir-se, consideram os especialistas, numa superação do formalismo estéril e numa contribuição para a afirmação de uma identidade brasileira na arquitectura.
Casa de Vidro | Instituto Lina Bo e P. M. Bardi
Rua General Almério de Moura, 200 - Bairro do Morumbi, Zona Sul
São Paulo, Brasil
E-mail: institutobardi@institutobardi.com.br
http://institutobardi.com.br
Horário: De quinta-feira a sábado, das 10h às 16h. Quando há exposições temporárias as visitas são abertas ao público. Quando não há devem ser marcadas através do e-mail educativo@institutobardi.com.br e os horários das visitas, necessariamente guiadas, são 10h30, 14h e 15h. As visitas têm duração de até 1h30 e são gratuitas.
A Fugas viajou a convite da Travelweek São Paulo by ILTM