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Albânia, este país não é para velhos

A meio da tarde, caminhando por aqui e por ali, sem um destino definido, tenho agora a companhia de Renis Batali, que gere, com mais dois sócios, um hostel onde me sinto como em casa. Por instantes, fazemos uma pausa para admirar a Pirâmide, uma estrutura em mármore e vidro, em tempos o antigo museu Enver Hoxha e projectado pela filha e o genro do ditador — nenhum deles imaginou que mais tarde se haveria de transformar numa discoteca e numa sala de conferências antes de ser completamente negligenciado — e não há planos para a destruir e tão-pouco para a renovar.

A Pirâmide é, neste seu novo estado de decadência, muito do agrado dos jovens que por ela vão deslizando antes de iniciarem nova subida. Renis Batali, também um jovem arquitecto e grande apreciador do trabalho de Siza Vieira, convida-me a sentar enquanto fita os rapazes no seu constante vaivém.

- A Albânia é um país com uma população muito jovem e com grande potencial. Infelizmente, nem um, nem outro são aproveitados da melhor forma.

O dia veste-se de uma luz bonita. Não muito longe está a residência do primeiro-ministro, com as suas varandas de onde Enver Hohxa costumava assistir às paradas militares.

- Em 2013, o partido socialista venceu as eleições com o slogan Renascimento e, em 2017, agora com um maior número de votos, foi reeleito. O actual governo, em conjunto com o sector privado e o munícipio, parece estar a fazer um bom trabalho para promover a cultura. Ao mesmo tempo, estão cada vez mais a abrir as portas aos jovens para que se sintam envolvidos por importantes projectos culturais, apesar de serem sempre os mesmos — os mais velhos — a definir o rumo, pouco ou nada fazendo. 

Continuamos ao longo da Avenida Dëshmorët e Kombit e não tardamos a pousar os olhares no edifício do Congresso, mais um projecto da filha e do genro do ditador.

- O que faz falta na Albânia é uma cultura underground. São todos demasiado pop. A maior parte dos jovens gosta de música, de filmes e programas horríveis e têm pouco ou nenhum conhecimento sobre arte e design. À excepção de Tirana, onde se pode encontrar jovens alternativos interessados numa exposição ou num concerto (ainda assim muito poucos se comparados com o número de habitantes), no resto das cidades eles são praticamente inexistentes.

 

Como um alien

Renis Batali consulta as horas no seu relógio.

- Tens alguma coisa contra cemitérios?

Estamos no cimo da Rruga Elbasanit, onde está localizado o cemitério dos mártires e onde foram sepultados 900 partisans que morreram durante a II Guerra Mundial — Enver Hoxha também, em 1985, mas mais tarde foi exumado e os restos mortais trasladados para uma simples sepultura, do outro lado da cidade. A panorâmica sobre Tirana e o monte Dajti é soberba. Daqui também se avista a estátua, inaugurada em 1972, da Mãe Albânia. Renis Batali retoma o seu raciocínio.

- Essa é a luta com que nos deparamos no hostel. Organizamos exposições, concertos, workshops, conversas e tantas outras actividades com um carácter social. Mas apenas ao fim de algum tempo é que vimos aumentar o interesse dos jovens por estas manifestações. Na maior parte dos casos apareciam porque nesse dia exibíamos o último episódio de A Guerra dos Tronos.

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