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Albânia, este país não é para velhos

- A Albânia é um país bonito — digamos que é um país abençoado devido ao seu potencial natural. Tem uma das populações mais jovens da Europa mas, infelizmente, permanece como um país pobre, uma herança que nos foi depositada nas mãos pelo comunismo e pela ditadura.

Por vezes deito os olhos até às fachadas brancas das casas como quem espera ver escrita nelas a história da cidade. Deixo que Jonida Qirko prossiga a sua narrativa, envolta em palavras que não diferem substancialmente daquelas que ouvira de Renis Batali, uns dias antes, em Tirana, e num inglês perfeito.

- As oportunidades de emprego são escassas, o salário é baixo e a juventude é forçada a emigrar, à procura de trabalho mas também de bem-estar. Por estranho que possa parecer, a despeito da pobreza, na Albânia toda a gente deseja uma vida de luxo. Mas, ao contrário do que acontece em Tirana, onde a juventude se entrega a alguns vícios e ao hedonismo, em Gjirokastër, uma cidade tranquila que desde há alguns anos a esta parte atraiu as atenções dos políticos e dos investidores, a juventude ainda está muito dependente do trabalho artesanal.

Gjirokastër, verdadeira cidadela otomana (na verdade foi tomada pelas tropas otomanas há precisamente 600 anos) que nos remete para os tempos do império e inscrita na lista de Património Mundial da UNESCO desde 2005, é umas pérolas deste país fechado ao mundo durante quase meio século — tanto tempo que até nos fez esquecer que, com os seus 427 quilómetros de costa, pouco ou nada fica a dever aos seus vizinhos em termos de beleza paisagística. Igualmente conhecida como cidade de pedra, orgulha-se de ter o mais imponente castelo do país e respira uma nostalgia e uma quietude que contrastam com os novos bairros, por vezes caóticos mas mais do agrado de uma população jovem — mas não só — que se prefere abrigar neles do que numa casa restaurada na parte antiga, da qual certamente Ismaïl Kadaré, exilado em França após a queda do comunismo, guarda gratas recordações. O mais reputado escritor albanês, de 81 anos, nasceu no bairro Palorto (onde viveu a sua infância), no coração da parte velha e não muito longe do bazar, numa casa que, após grandes obras de renovação, com a ajuda técnica e financeira da UNESCO e do Ministério da Cultura albanês, abriu as suas portas ao público em Janeiro do ano passado. Quando, em 1990, partiu para França, o autor de, entre outros, Os Tambores da Chuva, admitiu que “ditadura e verdadeira literatura são incompatíveis” e que “o escritor é o inimigo natural da ditadura”.

A verdade é que Ismaïl Kadaré e Enver Hoxha (1908-1985), que escreveu grande parte da história do país durante o século XX, graças a uma política de repressão que motiva a comparação com Estaline ou Mao Tse Tung (as fontes da sua inspiração para governar com mão de ferro), por pouco não se cruzaram nas ruas de Gjirokastër por onde continuo a caminhar até que o sol anuncie a sua retirada. Aquele que foi um dos fundadores do partido comunista albanês, filho de uma família de comerciantes da classe média, também nasceu em Gjirokastër, numa casa que, depois de renovada, abriga actualmente o museu etnográfico.

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