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Albânia, este país não é para velhos

Do cimo do castelo, a panorâmica sobre Shkodër, porta de entrada para os Alpes albaneses, e o lago homónimo, preenchido com um ou outro barco, prende o meu olhar.

Os três irmãos estabeleceram um pacto, de nenhum deles alertar as mulheres para o perigo e, ao mesmo tempo, de sacrificarem aquela que, no dia seguinte, lhes levasse o almoço. Os dois mais velhos quebraram o acordo e foi Rozafa quem fez a sua aparição, acatando a decisão sem qualquer protesto mas impondo apenas uma condição: que lhe fosse permitido expor o seio direito, o braço direito e o pé direito — para amamentar, acariciar e embalar o berço do filho recém-nascido.

À entrada do museu admiro uma vez mais a extraordinária escultura de Rozafa alimentando o seu bebé, enquanto eu me alimento da história de algumas mulheres que acorrem ao castelo para esfregarem os seus seios com as águas leitosas que se infiltram pelas paredes nos meses de Janeiro e Fevereiro.

Inicio a descida e caminho ao longo de dois ou três quilómetros até ao centro de Shkodër, banhada por um sol dourado e fervilhando de vida na Kolë Idromeno decorada com dezenas de esplanadas cheias de jovens e abrigando também o Museu Nacional de Fotografia Marubi, com uma exposição permanente de fotos dos Marubi, os mais aclamados fotógrafos albaneses, entre elas a primeira que foi tirada, em 1858, por Pjetër Marubi, bem como fascinantes retratos, acontecimentos e lugares, um testemunho de grande qualidade de uma Albânia definitivamente colocada num museu.

De volta à rua pedonal, com as suas casas de múltiplos matizes, amarelos, rosas, laranjas, verdes, azuis, vou perscrutando igrejas (a população é maioritariamente católica em Shkodër) e mesquitas, até que abandono o centro e tento chegar, à boleia, à Ura e mesit, uma bonita ponte na aldeia de Mes, com todo o cenário rural e pitoresco que a envolve.

São poucos aqueles que usam o automóvel. Por estes lados a bicicleta é o meio de transporte eleito. Mas chego a Mes e por ali fico, até que o dia quase se extinga, admirando a ponte que cruza as margens do rio Kir, construída no século XVIII pelo paxá otomano local, Kara Mahmud Bushati.

A noite cai e as ruas de Shkodër estão cheias de jovens. 

 

A cidade de pedra

As sombras avançavam determinadas e eu, caminhando ao longo de ruas tão impregnadas de silêncio, sentia grande dificuldade em controlar o riso, ainda com a memória tão cheia das anedotas que escutara na capital sobre os habitantes de Gjirokastër, declarada cidade-museu pelo estado albanês já em 1961, e o seu carácter somítico. A da mãe que prometia levar o filho com melhor desempenho nos trabalhos de casa a ver, no domingo seguinte, as pessoas a comer gelados bailava constantemente no meu cérebro, que felizmente ainda revelava alguma saúde para não procurar, aqui e acolá, uma girafa, o animal preferido dos locais — com um pescoço tão grande pode sempre comer no quintal do vizinho. 

O assunto era sério e com seriedade fui errando pelo bazar, não para descobrir uma população célebre pela sua avareza, mas pronto a encontrar exemplos da hospitalidade que é — para tanto fora avisado — uma das suas principais características. Gjirokastër parecia acolher com doçura os últimos raios de sol quando conheci Jonida Qirko, uma jovem que, de forma espontânea e natural, procurava transmitir-me a melhor imagem da sua cidade mas, ao mesmo tempo, uma visão realista, uma vez ou outra estabelecendo uma analogia com Tirana, talvez para eu melhor compreender a essência da mentalidade albanesa. 

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