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Albânia, este país não é para velhos

Caminhamos mais para sul, ao encontro do grande parque, o Parku i math i liqenit, com as suas esplanadas e os seus trilhos que em alguns casos correm paralelos ao lago artificial. Renis Batali aceita que há ainda um longo caminho a percorrer mas também sente que os tempos estão a mudar.

- Cresci em Tirana como um alien. Não partilhava gostos musicais, filmes, nada que fosse cultura, com os meus amigos. Mesmo o facto de ter o cabelo comprido fazia de mim um estranho aos olhos da maior parte das pessoas. De qualquer forma, gosto de viver em Tirana. Não sei se é pelo facto de ter nascido aqui ou simplesmente porque há algo de especial e fascinante que descubro no meio do caos que me rodeia.

A meio da tarde, Saimir Kristo junta-se a mim numa errância tranquila por alguns dos bairros da capital onde as fachadas dos edifícios ganham tonalidades vivas, como uma galeria a céu aberto, em contraste com os dias do cinzentismo reinante. Uma espécie de terapia cromática, iniciada no início deste século por Edi Rama, pintor e edil de Tirana, em parte também para elevar o moral dos habitantes.

- A iniciativa de colorir as cidades provou ser uma forma de devolver algum entusiasmo às populações. Trata-se de um primeiro passo, sem dúvida importante, mas insuficiente para construir o futuro do país. É necessário criar uma estratégia clara e focada nos mais importantes sectores do emprego, em áreas como a agricultura, o turismo, a indústria e os serviços, de forma a desenvolver a economia para que os albaneses permaneçam na Albânia — essa é a parte fundamental para assegurar um futuro brilhante ao país.

Também um jovem arquitecto, Saimir Kristo olha com algum cepticismo o horizonte do país.

- Após a queda do comunismo, a Albânia vive num estado de transição, num limbo, no qual os albaneses tentam usar o enorme potencial que o país tem. Mas os jovens, dinâmicos, cheios de energia e entusiasmo, muitos deles estudam no estrangeiro e, quando regressam, não escondem a sua insatisfação face à realidade e viram de novo as costas ao país. Mesmo aqueles que foram educados na Albânia se sentem por vezes desenraizados, sem capacidade para se encaixarem na forma como o país funciona, admite Saimir Kristo enquanto contemplamos os dois um prédio todo pintado de verde, com as suas setas amarelas que talvez indiquem o caminho que o país deve seguir.

 

Porta dos Alpes

Deixo Tirana bem cedo, no autocarro que me leva para Norte, ao encontro de Shkodër, uma das cidades mais antigas da Albânia, fundada quatro séculos antes do nascimento de Cristo e ocupada ao longo da sua história por romanos, sérvios, venezianos e otomanos. Recortando-se contra o céu avisto à distância o castelo de Rozafa, encimando uma colina rochosa e vigiando os três rios, o Drini, o Buna e o Kiri, que o abraçam e conferem à estrutura uma posição estratégica já apreciada pelas tribos ilírias.

Principal atracção turística desta cidade fortemente abalada por um sismo em 1979, a fortaleza, a exemplo do que sucede com tantas outras construções erguidas em tempos de antanho, encerra uma lenda. Rozafa era o nome da noiva de um dos três irmãos que durante o dia erguiam as paredes do castelo que, mal uma nova manhã se anunciava, podiam ser vistas de novo derrubadas sobre o solo. Intrigados, os homens consultaram um sábio, escutando da sua boca que a solução para expulsar o diabo que lhes destruía o trabalho diário e para levantar um castelo com uma vida longa passava por enclausurar, daí em diante, uma das suas mulheres no interior das muralhas — para mais tarde ser sepultada como oferenda para os deuses.

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