Fugas - Viagens

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Na aura de Amesterdão, navegam barcos de queijo, história e areia

Apesar da fama do queijo, Edam nasceu cidade de estaleiros e de comércio, no século XIV. “Chegou a ter o maior porto do nordeste dos Países Baixos, até Amesterdão superá-la”, conta o guia Leendert de Jonge. “Os queijos eram um negócio paralelo.” O que trazia prosperidade à cidade eram a construção de veleiros e o comércio de pescado, produtos hortícolas, madeiras e sal. Com o fim da Época Dourada Holandesa, por volta de 1700, a economia ressentiu-se em todo o país, incluindo Edam. Dos mais de 30 estaleiros que se alinhavam junto aos principais cursos de água da cidade, resta apenas um. Por pura paixão e teimosia de Freek Slot, que ali cresceu, entre carcaças de navios, roldanas, cabos e uma parafernália caótica de madeiras, metais e ferramentas de toda a espécie. O estaleiro Groot, na rua Lingerzijde, foi durante anos propriedade dos pais de Freek. “Ele sempre viveu aqui e era o sonho dele ficar com isto um dia”, conta a mulher, Karin Weel, enquanto os olhos de Freek brilham ao demonstrar como o sistema de cabos e de roldanas distribui o peso das cargas. Compraram-no há um ano e meio. Já não constroem embarcações de raiz, mas por vezes recolhem costelas de navios antigos, com “centenas de anos”, e reconstroem-nos a partir delas. Na maior parte do tempo, arranjam barcos que chegam das regiões vizinhas. Somente os de casco achatado. “A profundidade destes canais não ultrapassa os dois metros”, tinha-nos dito Leendert momentos antes. É possível visitar o estaleiro, alugar canoas para passeios na cidade. Quando chegámos, acabava de partir o último barco consertado em direcção a Monnickendam. Ficou uma semana. “Trabalhamos muito para manter este estaleiro histórico. É uma fonte de rendimento, mas sobretudo um estilo de vida.”

Hoje, o centro histórico de Edam é cenário turístico. Parece uma pequena vila parada no tempo mas impecavelmente aprumada. Uma visita guiada em bicicleta passa por nós, pelas ruas passeiam alguns turistas de câmara em punho. “São sobretudo famílias e pequenos grupos de amigos. Não queremos mais, não pode ser um destino de massas”, defende Leendert. A cidade não perdeu o charme nem a tranquilidade. Os edifícios de arquitectura tradicional sucedem-se, perfeitamente recuperados. Há pequenas lojas, ateliers, esplanadas, igrejas e pontes graciosas sobre os canais. Os séculos de glória contam-se nas fachadas: áticos redondos no século XVI, em escada no século XVII, direitos no século XVIII e redondos novamente no século XIX, vai apontando Leendert ao longo do caminho. Na esquina entre as ruas Eilandsgracht e Breestraat, encontra-se a casa de madeira mais antiga da cidade, datada de 1510. Depois de um raio ter atingido a igreja de São Nicolau e o incêndio ter-se alastrado por todo o bairro, tornou-se obrigatório construir em tijolo. Mas a minúscula casa de madeira azul foi sobrevivendo a tudo, mantendo-se intacta, 500 anos depois. Leendert morou nela “três ou quatro anos”. “É maravilhoso viver numa casa assim. E é muito quentinha por dentro.” No centro histórico da cidade, habitam cerca de 3000 pessoas. Ao final da tarde, é ver os miúdos correr pelas ruas de paralelos. Depois do jantar, das largas janelas espreitam-se famílias recolhidas em frente aos televisores das salas.

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