Fugas - Viagens

  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR

Multimedia

Mais

Ver mais

Na aura de Amesterdão, navegam barcos de queijo, história e areia

Por Mara Gonçalves

Praias, vilas ancestrais, parques naturais, prados e queijo, muito queijo. Fomos conhecer o país rural e veraneante que se abeira da capital dos Países Baixos.

“Cuidado com a cabeça. Não se levantem.” Entre os corpos que se curvam sobre o espaço livre a bordo e a pequena ponte de madeira que nos passa por cima não sobra mais do que um palmo de intervalo. De joelhos na popa, Reinard Maarleveld empurra o barco pela passagem estreita à força de braços sobre um remo de gondoleiro. Não se vê vivalma junto às moradias de madeira. Apenas fileiras de patos a nadar no canal ou adormecidos sobre as margens. Muitos vasos, canteiros, arbustos e árvores derramam sombras sobre a água. Num nó de ramos, a proa de um velho barco de madeira é agora uma casa na árvore, com uma corda pronta a embalar miúdos para um mergulho. Não tarda, o canal alarga-se e o remo descansa aos nossos pés. O motor silencioso fará o resto do caminho pelos prados alagados de Waterland.

É na região a norte de Amesterdão que iniciamos um curto périplo por parte da natureza, da história e da tradição que se inscreve nos arredores da capital dos Países Baixos. Pastos bucólicos, queijos ancestrais recuperados, vilas paradas no tempo, praias e um parque natural feito de dunas onde se luta pela conservação do bisonte europeu. “Há mais do que Amesterdão”, lembra Manon Zondervan, assessora de imprensa do organismo oficial de turismo da cidade. “Estamos a 20 minutos [da capital] e é uma área totalmente diferente.” Os canais continuam a dominar a paisagem mas o cenário já não é composto por prédios de fachadas estreitas em tons terra nem pelo trânsito de barcos, bicicletas, carros, transportes públicos, turistas e malas de viagem que invade o centro da cidade. É a Holanda rural dos postais: pastagens tão verdes e planas que o olhar não lhes alcança o fim, salpicadas de cavalos, ovelhas e vacas.

“Se repararem, uma margem é mais alta do que a outra. Esta está acima do nível do mar. Aquela era um antigo lago que secaram”, aponta Reinard, dono de uma empresa de aluguer de barcos que hoje nos guia num curto passeio em Waterland (broekerbootverhuur.nl). Grande parte da região — e do país — foi conquistada ao mar por um intrincado sistema de diques, canais e drenagens. Na balança do território ocupado pelo município, apenas oito quilómetros quadrados dão vantagem à terra sobre a água. Uma luta ininterrupta entre o homem e a natureza que os pequenos moinhos que se avistam aqui e ali não deixam esquecer. “Servem para bombear a água de um lado para o outro. Quando chovia, o depósito enchia e o sistema mecânico fazia o moinho virar as comportas e enviar a água do canal para os oceanos”, conta. “Toda a vida andámos a tirar água das terras.” O processo mantém-se até hoje, mas os moinhos estão agora “electrificados e computorizados” e todo o sistema é controlado através de uma central.

O solo é, por isso, “lamacento e mole” por aqui. Não serve para a agricultura intensiva. “As máquinas afundariam”, explica Reinard. O terreno não aguenta mais do que dezenas de vacas, que pastam placidamente sobre as margens, e pequenos tractores ou roçadeiras, que “aparam a erva no final do Verão para armazenar durante o Inverno”. Excepção feita pelas pequenas plantações de milho, cultivadas para dar descanso aos solos e fertilizar. Até as casas “são [quase] sempre em madeira”, para “não pesar” sobre as fundações em cimento, indica. “Tinham de ser muito ricos para construir em tijolo”, por exigirem alicerces maiores, mais robustos e sofisticados.

--%>