Há, pois, os voluntários que aparecem todas as semanas – e que têm mesmo esse estatuto, e um manual assinado com direitos, deveres e benefícios (no final de cada actividade, degustar infusões e biscoitos na casa das infusões; receber uma planta por participação, beneficiar de descontos, contribuir para cabazes a entregar a instituições de solidariedade. E há os que aparecem uma vez por outra, quando podem. “Acho que as pessoas querem sobretudo alterar os seus hábitos, estar ao ar livre, sentirem-se úteis, serem felizes”, sintetiza Luís Alves.
Esse é, também, o resumo perfeito para descrever a “Malta das Aromáticas”, o grupo iniciado por Carlos Vieira, que começou a frequentar a Quinta em 2012, e desde então não deixou de o fazer, todas as quintas-feiras, de Julho a Outubro. Reformado da PT, começou a juntar ex-colegas ao grupo, hoje já são mais de 30, reformados dessa e de outras empresas. “Passamos a manhã aqui, e depois vamos todos almoçar e passear. Hoje vamos ao leitão”, avisa. Da “Malta das Aromáticas” faz parte gente de toda a Área Metropolitana do Porto, mas não só. Há quem venha de Baltar (Paredes) ou do Marco de Canavezes. Ou até de Montemor-o Velho, distrito de Coimbra, como Cláudio Matos, um funcionário de uma livraria em Coimbra que quer mudar de vida e já se candidatou aos fundos do PDR2020 (que distribuem apoios comunitários a projectos agrícolas) para avançar com um projecto próprio. Ou até do Funchal, como Gilda Freitas, que aproveitou a casa de um filho a trabalhar no Porto para ficar a sua última semana de férias em Gaia, e passar todos os dias em actividades no Cantinho. “Gosto muito, mas mesmo muito disto. Vivo rodeada de plantas e flores. Quero sempre saber mais”, conta, dizendo que não tem nenhuma horta a sério, mas tem a casa cheia de vasos e vasinhos.
Antes de nos mostrar o caminho até aos canteiros, já Luís Alves nos tinha feito o resumo das tipologias de voluntários que lhe aparecem todas as semanas do ano. Temos os agricultores profissionais em potência, os urbano-depressivos que querem fazer hortas na varanda, e os voluntários da pastilha, que querem uma alternativa aos anti-depressivos”, brinca Luís Alves, com o humor que já todos lhe reconhecem. “Costumo dizer que os agricultores são como os hackers e os terroristas, as classes mais anónimas do planeta. Isto é, toda a gente sabe que existem mas ninguém lhes conhece a cara. Raramente se sabe quem plantou a batata que colocamos na panela, ou as folhas com que fazemos uma tisana. Aqui queremos mudar isso”, afirma.
Nesta manhã de Agosto muito quente, eram quase 50 as pessoas que se espalhavam pelos canteiros para ter esta experiência. Há estreantes e veteranos, homens e mulheres, de todas as idades e proveniências. A colheita desta manhã rendeu à volta de 70 quilos. As perpétuas são espalhadas pelos tabuleiros que as levarão à estufa, onde ficam entre dois a três dias, a uma temperatura de 40 graus. “Cada quilo de perpétuas apanhadas e depois de passar pelo processo de secagem dará 200 gramas para infusão. Devemos ter apanhado uns sete quilos de perpétuas roxas para infusão”, contabiliza Luís Alves.