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Apanhar perpétuas é uma festa!

Por Luísa Pinto

Às quintas e sábados, entre Agosto e Novembro, as manhãs são de colheita de perpétuas roxas no Cantinho das Aromáticas, em Gaia.

Mas o programa de voluntariado abre as portas da quinta o ano todo, e entra toda a gente: os “potenciais agricultores profissionais”, os “urbano-depressivos da varanda”, e “os voluntários da pastilha”.

A técnica é fácil de explicar e, na verdade, é ainda mais fácil de aprender. Primeiro, coloca-se o chapéu na cabeça; depois, pendura-se no cinto das calças o saco plástico, ainda vazio. Por fim, escolhe-se um entre a mais de uma dezena de canteiros que, por esta altura do ano, estão majestosamente floridos. Então, é começar a colher. As flores dão-nos sensivelmente pela cintura, a planta das perpétuas é admiravelmente generosa, não é preciso sequer tentar levar o canteiro a eito. É só dar gosto às unhas e escolher as que têm as flores maiores: usa-se a unha, e tenta-se cortar a perpétua o mais perto possível da flor. A flor desprende-se com tanta facilidade que, rapidamente estaremos à vontade para usar as duas mãos. De repente, o saco começa a ficar alegremente cheio.

Deve dizer-se que não se trata aqui de uma corrida a ver quem enche mais sacos. Não há objectivos mínimos ou máximos, na verdade cada um apanha as que quiser. Porque é de voluntariado que aqui se trata, e a colheita de perpétuas foi mesmo a iniciativa pioneira que transformou o Cantinho das Aromáticas na primeira empresa agrícola do país a aderir à bolsa nacional do voluntariado. Foi há seis anos. A bolsa nacional entretanto extinguiu-se. Mas a procura do Cantinho das Aromáticas, para passar uma manhã de sol ou de chuva, está muito longe da extinção. E as perpétuas, sobretudo as de cor roxa, como aquelas que estamos a cortar com  a ponta dos dedos, têm muito a ver com isso.

Maria de Fátima, Luísa e Matilde são três gerações de uma mesma família, residente no Porto. O apelido “não interessa”, a motivação era clara: “Vi ontem no Facebook as fotografias do sábado passado, já ouvi falar muitas vezes, decidimos vir experimentar. É uma maneira diferente de passar a manhã. Ao ar livre”, explica Maria de Fátima, a avó. A neta, Matilde, cinco anos aguardava o reinício da escolinha, e estava a “adorar estar a apanhar flores”; a tia, Luísa, está desempregada, à procura de oportunidades no mundo da fotografia. Desta vez não trouxe a máquina, e, confessa, já se arrependeu.

A fotogenia deste Cantinho e destes canteiros é inegável, e não há câmara de nenhum telemóvel que não o confirme. Américo Cartucho, reformado da PSP, apaixonado pela fotografia e voluntário desde que o Cantinho começou a abrir as portas, será um do que mais a conhece. “Tenho uma colecção de fotos do Cantinho que é interminável. Vejo-o do meu terraço – e tenho fotos em que, às vezes, parece que estamos na Provença (França), ou na Suíça”, explica. Admite que a época das perpétuas é uma das mais bonitas, mas ele está lá todo o ano, mesmo quando é para colocar estacas, fazer envasamentos, trabalhar na estufa. “O Luís [Alves] é um poço de sabedoria. E o sentido de humor dele é excepcional. Quando não venho cá, sinto a falta”, explica. Esta quinta-feira trouxe a neta para o acompanhar e, enquanto despeja um saco cheio de perpétuas roxas, e tira a máquina da mochila que trazia às costas, avisa. “Já fiz a minha parte, agora vou procurar a aranha-tigre: não me pergunte o nome científico dela, já a vi aí a semana passada [e mostra a fotografia no ecrã da máquina] vou ver onde anda agora!”, sorri.

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