Quando, em 1981, entrou para a vinícola João Pires & Filhos, em Azeitão, ainda não existia em Portugal nenhum curso de enologia. Filipa tirou agronomia, que era o mais parecido. Proveniente de uma família de Vila Franca de Xira sem história vitivinícola, mantinha com o vinho a mesma ligação "de todos portugueses". "Todos nós temos alguma relação com o vinho. A minha foi através da pequena adega que o meu avô tinha em Vila Franca de Xira e das vindimas que fazia em pequena nas vinhas da família da minha mãe, em Gouveia", conta.
Ainda antes de terminar o curso, foi convidada a fazer uma vindima na João Pires pelo novo accionista da empresa, o também agrónomo António Francisco Avilez, que havia adquirido a maioria do capital à José Maria da Fonseca no final dos anos setenta do século passado. "Entre fazer bolos ou vinhos, preferi fazer vinhos", lembra, sempre a rir. Fez a vindima e nunca mais saiu da casa.
Na altura, a João Pires dedicavase ao comércio de vinho a granel. No início da década seguinte, António Avilez começou a desenvolver as suas próprias marcas. Mal entrou, Filipa assistiu ao primeiro engarrafamento do vinho Quinta da Bacalhôa. Hoje, é ela que o faz.
Passaram-se 30 anos e muita coisa mudou desde então. A João Pires foi entretanto adquirida por uma multinacional e passou a J.P. Vinhos. Prosseguindo a diversificação do portfolio, a empresa criou a linha J.P, de vinhos mais baratos, que se revelaram um sucesso comercial. O vinho J.P. é hoje a marca mais vendida em Portugal.
Em 1995, Joe Berardo entrou no capital da empresa e três anos depois tornou-se o accionista principal. Em 2000, comprou a quinta e o Palácio da Bacalhôa e a J.P. Vinhos passou a chamar-se Bacalhôa Vinhos.
Olhando retrospectivamente o seu percurso, Filipa reconhece que quando entrou na João Pires o universo do vinho era habitado quase só por homens. As poucas mulheres que havia, ou eram proprietárias ou eram filhas do patrão, e, no máximo, "assumiam a parte comercial ou o laboratório, nunca a produção", lembra.
Filipa sentiu "os mesmos problemas que todas as mulheres que assumem profissões antes reservadas aos homens sentem". Nos primeiros tempos os faxes chegavam-lhe muitas vezes com o nome de Filipe.
Hoje, ser enóloga tornou-se algo trivial. Só que ainda não é assim tão comum encontrar mulheres a liderar a produção de milhões de litros de vinho. Mas é nessa dimensão que Filipa trabalha. Entre as marcas como a J.P. Quinta da Bacalhôa, Catarina, Má Partilha e Cova da Ursa, entre os vinhos de mesa e os moscatéis, é responsável pela produção de mais de oito milhões de litros.
De todos os vinhos da empresa, é ao branco Quinta da Bacalhôa que se sente mais ligada, porque "é um projecto que vem desde a plantação da vinha à produção do vinho". "E ainda estou a aprender", diz. No entanto, os vinhos de que mais gosta são os brancos da Borgonha. "Mas são tão caros que não se podem beber muitas vezes", lamenta.
Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias
Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria
Filipa Pato | FP Wines
Sandra Gonçalves | Dona Maria
Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa
Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro
Rita Marques Ferreira | Conceito
Gabriela Canossa | Quinta da Revolta
Joana Roque do Vale | Roquevale
Lúcia Freitas | Dão Sul
Susana Esteban | Solar dos Lobos