Fugas - Vinhos

  • Miguel Manso
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10 Enólogas: Filipa Tomaz da Costa (Quinta da Bacalhôa)

Por Pedro Garcias

"Se calhar, fora a D. Antónia [a Ferreirinha], fui a primeira enóloga portuguesa", diz, meio a brincar, Filipa Tomaz da Costa directora de enologia da Bacalhôa Vinhos. Aos 52 anos, é a decano das enólogas nacionais.

Quando, em 1981, entrou para a vinícola João Pires & Filhos, em Azeitão, ainda não existia em Portugal nenhum curso de enologia. Filipa tirou agronomia, que era o mais parecido. Proveniente de uma família de Vila Franca de Xira sem história vitivinícola, mantinha com o vinho a mesma ligação "de todos portugueses". "Todos nós temos alguma relação com o vinho. A minha foi através da pequena adega que o meu avô tinha em Vila Franca de Xira e das vindimas que fazia em pequena nas vinhas da família da minha mãe, em Gouveia", conta.

Ainda antes de terminar o curso, foi convidada a fazer uma vindima na João Pires pelo novo accionista da empresa, o também agrónomo António Francisco Avilez, que havia adquirido a maioria do capital à José Maria da Fonseca no final dos anos setenta do século passado. "Entre fazer bolos ou vinhos, preferi fazer vinhos", lembra, sempre a rir. Fez a vindima e nunca mais saiu da casa.

Na altura, a João Pires dedicavase ao comércio de vinho a granel. No início da década seguinte, António Avilez começou a desenvolver as suas próprias marcas. Mal entrou, Filipa assistiu ao primeiro engarrafamento do vinho Quinta da Bacalhôa. Hoje, é ela que o faz.

Passaram-se 30 anos e muita coisa mudou desde então. A João Pires foi entretanto adquirida por uma multinacional e passou a J.P. Vinhos. Prosseguindo a diversificação do portfolio, a empresa criou a linha J.P, de vinhos mais baratos, que se revelaram um sucesso comercial. O vinho J.P. é hoje a marca mais vendida em Portugal.

Em 1995, Joe Berardo entrou no capital da empresa e três anos depois tornou-se o accionista principal. Em 2000, comprou a quinta e o Palácio da Bacalhôa e a J.P. Vinhos passou a chamar-se Bacalhôa Vinhos.

Olhando retrospectivamente o seu percurso, Filipa reconhece que quando entrou na João Pires o universo do vinho era habitado quase só por homens. As poucas mulheres que havia, ou eram proprietárias ou eram filhas do patrão, e, no máximo, "assumiam a parte comercial ou o laboratório, nunca a produção", lembra.

Filipa sentiu "os mesmos problemas que todas as mulheres que assumem profissões antes reservadas aos homens sentem". Nos primeiros tempos os faxes chegavam-lhe muitas vezes com o nome de Filipe.

Hoje, ser enóloga tornou-se algo trivial. Só que ainda não é assim tão comum encontrar mulheres a liderar a produção de milhões de litros de vinho. Mas é nessa dimensão que Filipa trabalha. Entre as marcas como a J.P. Quinta da Bacalhôa, Catarina, Má Partilha e Cova da Ursa, entre os vinhos de mesa e os moscatéis, é responsável pela produção de mais de oito milhões de litros.

De todos os vinhos da empresa, é ao branco Quinta da Bacalhôa que se sente mais ligada, porque "é um projecto que vem desde a plantação da vinha à produção do vinho". "E ainda estou a aprender", diz. No entanto, os vinhos de que mais gosta são os brancos da Borgonha. "Mas são tão caros que não se podem beber muitas vezes", lamenta.

Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias

Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria

Filipa Pato | FP Wines

Sandra Gonçalves | Dona Maria

Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa

Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro

Rita Marques Ferreira | Conceito

Gabriela Canossa | Quinta da Revolta

Joana Roque do Vale | Roquevale

Lúcia Freitas | Dão Sul

Susana Esteban | Solar dos Lobos

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