Os pais não gostaram muito da ideia. "Eles achavam que enologia não era bem um curso. Depois habituaram-se", recorda. O facto de a família de Rita, por parte da mãe, possuir vinhas em Cedovim, no concelho duriense de Vila Nova de Foz Côa, ajudou a atenuar a frustração dos pais e pode ter contribuído para a decisão da filha. Mas o que determinou mesmo a escolha de enologia foi a circunstância de "ter começado nessa altura a gostar de vinho", diz.
Rita Marques Ferreira tinha 21 anos quando se mudou de Coimbra para a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real. A primeira vindima que fez, a meio do curso, foi na Quinta do Passadouro, junto ao Pinhão, com o enólogo Jorge Serôdio Borges, o criador do vinho Pintas, entre outros. A segunda foi na Quinta de Nápoles, com Dirk Niepoort. Fez a terceira no Château Montelana, na Califórnia, e entrou depois no programa Erasmus para cumprir o último ano de curso em Bordéus, onde teve como professor Denis Dubourdieu, um dos mais reputados enólogos franceses.
Além de consultor em mais de 30 empresas, Dubourdieu tem os seus próprios châteaux na região de Bordéus e Rita fez vindimas num deles, o château Reynon. "Foi, de longe, o melhor enólogo com quem já trabalhei", confessa.
Mas Rita não desvaloriza as suas incursões ao Novo Mundo do Vinho (além da Califórnia, onde encontrou enólogos franceses, estagiou na Nova Zelândia e na África do Sul), nem a sua experiência iniciática no Douro. Do contacto com Jorge Serôdio Borges e Dirk Niepoort ficou "com a certeza que era aquilo [fazer vinhos] que gostava e que queria fazer", diz. Jorge Serôdio Borges ajudou-a, de resto, a fazer o seu primeiro vinho, quando tinha 23 anos. Chamou-lhe Pangeia, mas não lhe deu continuidade, uma vez que a marca já estava registada por outro produtor.
Entretanto, com a morte do avô, a mãe de Rita assumira a gestão da quinta em Cedovim. Em 2005, as duas lançaram o projecto Conceito, a marca principal da sociedade familiar e que, explica a enóloga, é usada para os vinhos que lhes "apetece fazer" e que tentam vender. Um deles é o tinto Bastardo, uma casta mal amada no Douro mas com potencial. Para os vinhos mais fáceis de beber e de vender, foi criada a marca Contraste.
Os primeiros vinhos, cerca de 10 mil garrafas, começaram a ser comercializados nesse ano. Em 2010, a produção atingiu as 150 mil garrafas e a ambição é chegar "às 400 mil". Aos 28 anos, Rita Marques Ferreira conquistou já o seu lugar na enologia do Douro e do país, confirmando-se como uma das mais talentosas enólogas da sua geração.
No ano passado, Rita regressou à Nova Zelândia, para fazer o seu próprio vinho, um branco de Sauvignon Blanc com a mesma exuberância aromática que a casta atinge naquele país mas com mais volume e estrutura. Produziu 25 mil garrafas, que começaram recentemente a ser comercializadas no mercado nacional. Na semana passada, viajou até à África do Sul, onde vai repetir a experiência, desta vez com um tinto. A esta hora, já deve estar a vindimar.
Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias
Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria
Filipa Pato | FP Wines
Sandra Gonçalves | Dona Maria
Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa
Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro
Rita Marques Ferreira | Conceito
Gabriela Canossa | Quinta da Revolta
Joana Roque do Vale | Roquevale
Lúcia Freitas | Dão Sul
Susana Esteban | Solar dos Lobos