Fugas - Vinhos

  • Nuno Correia
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10 enólogas: Joana Roque do Vale (Roquevale)

Por Pedro Garcias

A ligação de Joana Roque do Vale ao vinho vem desde a infância, em Torres Vedras, onde os bisavôs já eram produtores. Mas o momento que determinou o futuro da família deu-se em 1976, na ressaca da revolução de Abril, quando o pai de Joana, Carlos Roque do Vale, deixou de estudar e trocou Torres Vedras pelo Redondo, para tomar conta das propriedades do sogro, as herdades do Monte Branco e da Madeira (cerca de 200 hectares no total). Três anos depois, Carlos tornou-se presidente da Adega Cooperativa do Redondo e em 1983 criou uma sociedade com o sogro. Nascia, então, a Roquevale.

Em 1989, Carlos deixou a presidência da adega e dedicou-se a tempo inteiro à empresa, que, nesse ano, inaugurou a sua própria adega e lançou as marcas Terras de Xisto, Tinto da Talha e Redondo. O sogro saiu entretanto da sociedade e, no seu lugar, entrou um primo direito da mãe, Clara Roque do Vale, que, também em 1989, foi nomeada pelo Ministério da Agricultura para presidir à novel Comissão Vitivinícola Regional Alentejana. Clara era funcionária da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo e ficou à frente da Comissão até 2001.

Quando a Roquevale lançou os seus primeiros vinhos, Joana estava prestes a terminar o secundário e a entrar em engenharia agroindustrial, na Escola Superior Agrária de Beja. "Em Torres Vedras, andava entre as vinhas e a adega. No Alentejo, continuei a andar entre as vinhas e a adega. Nunca pensei em mais nada", diz, justificando a opção.

O estágio curricular foi feito na Herdade do Esporão, onde teve como coordenadores o engenheiro Rosário do Colaço, um dos mais reputados técnicos de viticultura nacionais, e o enólogo Luís Duarte, que também era consultor da Roquevale. Em 1995, Joana, agora com 37 anos, concluiu o curso e começou trabalhar na empresa da família, fazendo de tudo. "Era analista, adegueira, puxa mangueiras. Fui pau para toda a obra", lembra.

No ano seguinte, Luís Duarte deixou de ser consultor e Joana passou a assumir sozinha a enologia da Roquevale, cargo que continua a exercer. Quando chegou à empresa, a produção andava à volta das 300 mil garrafas. Hoje, a Roquevale comercializa mais de três milhões de litros de vinho. É a segunda maior empresa privada do Alentejo.

Há cinco anos, a Roquevale sofreu grandes alterações. Carlos Roque do Vale manteve-se como sócio mas abandonou a direcção da empresa, que passou a ser liderada por um gestor externo. Em 2000, pai e filha, juntamente com um amigo, tinham, entretanto, comprado 65 hectares de vinha em Pias e criado a empresa Monte da Capela. Depois de reestruturarem as vinhas, construíram uma adega, que começou a laborar em 2010. Sob as marcas Terras de Pias, Herdade da Capela, Monte da Capela e Adega de Pias, esta sociedade já comercializa cerca de 800 mil litros.

Joana, que vive desde o ano passado em Vila Real (vai todas as semanas ao Alentejo), faz os vinhos das duas empresas e é ainda responsável pelo mercado externo de ambas. "É um desafio muito grande fazer tanto vinho numa base de consistência de ano para ano. E tenho muito orgulho em fazer vinhos para todos os momentos, dos 2 aos 20 euros", diz. Qualquer enólogo faz um bom vinho de garagem. O mais difícil é fazer vinhos de grande volume com uma boa relação qualidade/preço. Joana consegue-o e esse é o seu grande mérito.

Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias

Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria

Filipa Pato | FP Wines

Sandra Gonçalves | Dona Maria

Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa

Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro

Rita Marques Ferreira | Conceito

Gabriela Canossa | Quinta da Revolta

Joana Roque do Vale | Roquevale

Lúcia Freitas | Dão Sul

Susana Esteban | Solar dos Lobos

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