Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

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Os vinhos da Áustria em 48 horas

Auslese e Trockenbeerenauslese são dois dos seis tipos de vinhos doces austríacos que integram os chamados Prädktswein. Os outros quatro dão pelo nome de Spätlese, Eiswien, Beerenauslese e Ausbruck. Os Spätlese são os menos doces e não podem ter menos do que 94 gramas de açúcar por litro. OsTrockenbeerenauslese são os mais concentrados e intensos (em regra, são também os que possuem mais ácidos), só podem ser produzidos com uvas atacadas pela Botrytis Cinerea ou ressequidas e terão que ter, no mínimo, 154 gramas de açúcar residual.

Em Burgenland, são várias as castas com aptidão para vinhos doces. Uma delas é a Smäling, casta branca austríaca que tem na sua origem pré-filoxérica um cruzamento de Riesling com uma variedade selvagem desconhecida. Origina vinhos doces admiráveis, cheios de notas exóticas, cítricas e até tropicais, gordos e ao mesmo tempo refinadamente ácidos, como aqueles dois vinhos dos Lentsch.

3. Do moderno Toni Hartl ao clássico Feiler-Artinger

Toni Hartl, homem de quarenta e poucos anos que trocou um emprego público em Viena pela viticultura em Burgenland, não está bem nas antípodas dos Lentsch, mas quase. Convertido à agricultura biodinâmica, ele representa a face moderna e internacional da viticultura austríaca. As suas referências são, sobretudo, francesas, o que explica a aposta em castas como a Chardonnay, o Pinot Noir e a Syrah, a par de outras indígenas.

Os seus brancos e tintos secos seguem um perfil mais internacional, mesmo quando só recorre a castas locais, como a Blaufränkisch, a Zweigelt e a St. Laurent, mas surpreendem pela pureza, volume, estrutura e acidez bem balanceada. Belíssimo o seu tinto Inkognito. Também faz vinhos doces, alguns com castas improváveis, como o seu Beerenauslese Syrah 2006, uma raridade. Nesse ano, a Botrytis Cinerea até as uvas de Syrah atacou e Toni resolveu vinificar os cachos afectados. O vinho é surpreendente e tem o encanto de ser único. Não voltou a ser feito e não se sabe se voltarão a ocorrer as mesmas condições que permitiram fazê-lo em 2006.

As vinhas de Toni, situadas no sopé dos montes Leitha, já um pouco afastadas do lago Neusiedle, não ficam muito longe de Rust, a mais peculiar e pitoresca cidade vinícola de Burgenland. Um dos mais antigos produtores locais é Feiler-Artinger. Os seus brancos e tintos secos, de inspiração clássica, são muito procurados, porque vão ao encontro do gosto étnico. Os brancos cativam facilmente, os tintos são muito ríspidos, com taninos pungentes e enorme acidez. Bebidos socialmente, tornam-se quase repulsivos, mas com comidas substanciais podem ser surpreendentes. Em contrapartida, os seus vinhos doces podem levar-nos ao céu, como o soberbo Ruster Ausbruch Essenz 2006, que, como o próprio nome sugere, é pura essência (36 euros na adega).

4. Langenlois, o terroir da Grüner Veltliner

Langenlois é o centro da subregião de Kamptal, na Baixa Áustria. As vinhas crescem em redor da cidade, no meio da qual se ergue o fantástico Loisium, um museu-adega com vinoteca, hotel, spa e restaurante desenhado pelo americano Steven Holl. Fizemos lá uma bela refeição e provámos alguns vinhos encantadores, como um desconcertante Sauvignon Blanc (puro gaspacho, com efusivas notas de folha de tomate e pimento verde) e um belíssimo Roter Veltliner (Veltliner roxo), mais maduro e volumoso.

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