Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

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Os vinhos da Áustria em 48 horas

Em Langenlois há vinhas por todo o lado e cada encosta tem o seu nome e vocação. A mais famosa e cobiçada é a encosta de Eilingenstein ("Pedra Sagrada"), de solo granítico, que produz os melhores Riesling da região. Ao lado, fica a também exclusiva Gaisberg ("A montanha das cabras"), de onde vêm os melhores Grüner Veltliner da Áustria, vinhos muito minerais e apimentados, cuja qualidade e tipicidade tem origem nos solos finos e amarelados de loess, sedimentos formados pela erosão dos ventos, e no clima fresco da região.

A cultura de terroir está implantada em toda a Áustria, mas é quase levada ao extremo em Kamptal. Cada parcela de vinha origina um vinho próprio, o que explica que cada produtor comercialize dezenas de referências. A família Hiedler, um dos produtores de média dimensão de Langenlois e que produz magníficos Grüner Veltliner (a casta mais plantada na Áustria), é um deles. Guiados pela catalã Maria Angeles Castelhanos, esposa de Ludvig Hiedler, provámos alguns no terraço-jardim da adega, com vista para Langenlois e as vinhas circundantes, e deu para perceber que a quase obsessão pelos vinhos de parcela não é uma excentricidade.

5. Os gloriosos Riesling da "Pedra Sagrada"

O respeito pela identidade de cada vinha é igualmente visível na vizinha vinícola Bründlmayer, que produz e vende mais de 40 vinhos diferentes. Uma magnífica degustação conduzida por Thomas Klinger, o director comercial da empresa, deu-nos a conhecer belos tintos da casta St. Laurent (uma espécie de primo do Pinot Noir) e brancos assombrosos de Grüner Veltliner e Riesling.

A Bründlmayer é proprietária de 75 hectares de vinhas em Kamptal. Mas o seu verdadeiro tesouro está em Heiligenstein, onde possui 12 dos 36 hectares de vinhedos existentes naquela encosta. É de lá que vêm alguns dos seus melhores Riesling, vinhos muito minerais e com aromas delicados de citrinos, alperce e camomila.

Os Riesling secos de Bründlmayer são formidáveis, mas os doces não lhe ficam atrás. Um deles, um Trokenbeerenauslese da vinha Steinmassel de 2009 (considerada uma das melhores colheitas de sempre na Áustria), é a glória em forma de vinho. Com apenas 6 por cento de álcool e uma grande acidez, tem uma riqueza aromática e uma intensidade de sabor sem fim.

A viagem terminou com uma visita à cidade de Krems, classificada como Património Mundial e situada mesmo às portas da região de Wachau. Mas nem a beleza da sua arquitectura barroca provocou tamanho sobressalto sensorial como aquele Riesling, que tem tudo para ser eterno. Johanna agradeceu cantando uma ária de Mozart. O vinho merecia.

A Fugas viajou a convite da Embaixada da Áustria

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