Fugas - Vinhos

  • Vintage Noval Nacional 1963: 5570 euros a garrafa.
    Vintage Noval Nacional 1963: 5570 euros a garrafa. Fernando Veludo/Nfactos
  • Barbara Wanner (à esquerda), Eric Beaumard (ao centro) e João Pires (à direita)
    Barbara Wanner (à esquerda), Eric Beaumard (ao centro) e João Pires (à direita) Fernando Veludo/Nfactos

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A noite em que se bebeu o lendário Vintage Noval Nacional 1963

As reservas de alguns sommeliers foram bem evidentes na prova que fizeram no primeiro dia da viagem no Hotel The Yeatman, em Gaia, com vinhos da Quinta da Gaivosa, Quinta do Ameal, Casa de Cello, Quinta dos Roques e Luís Pato. Um dos vinhos mais criticados, por ser muito extraído, compotado e marcado pela madeira, foi o tinto Abandonado 2007, da Quinta da Gaivosa. Um vinho caro e que a crítica nacional tem colocado nos píncaros. Em contrapartida, toda a gente se rendeu ao Quinta da Gaivosa Tinto 2000, um vinho extraordinário, muito químico, com taninos ainda muito vivos mas cheio de frescura e mineralidade.

Outro vinho que surpreendeu negativamente foi o Quinta dos Roques Encruzado 2010, por ter madeira a mais e ser um pouco enjoativo. Mas do mesmo produtor ouviram-se loas ao fantástico Quinta dos Roques Garrafeira Tinto 2003, um vinho cheio de elegância e frescura que espelha bem a matriz excelsa dos tintos do Dão. Os vinhos com boa acidez, puros, minerais, vibrantes profundos e elegantes, e também já com alguma idade, foram, de resto, os mais elogiados. O Quinta do Ameal Escolha 2001, por exemplo, foi um deles. Um grande Loureiro, muito mineral e seco e com uma acidez vibrante.

A Casa de Cello, por seu lado, causou grande impacto com os seus tintos, enérgicos e frescos, Quinta da Vegia Reserva 2007 e Esquecido 2007, do Dão. E Luís Pato, que levou três colheitas iguais dos tintos Vinha Pan e Vinha Barrosa (2009, 2003 e 1997), deixou bem patente o grande potencial da Bairrada e da casta Baga. Todos os vinhos causaram boa figura, mas o que mais impressionou foi o Vinha Barrosa 2003. Fresquíssimo, muito balsâmico, e de grande estrutura tânica. Um vinho grandioso, para beber já e ir guardando umas garrafas.


Os vinhos portugueses precisam de imagem 

Muitos produtores portugueses, demasiados, diga-se, vivem em ânsias perante tipos como Mark Squires, o homem que Robert Parker escolheu para tratar da sua newsletter e, nas horas vagas, provar também os vinhos de Portugal. Squires não gosta de cães (ao contrário do seu patrão), nem de crianças, nem tão-pouco de vinhas. E é duvidoso que também goste muito de vinho, a avaliar pelas notas que dá. Mesmo assim, os produtores portugueses continuam a conceder-lhe crédito e a temê-lo, quando teriam muito mais a ganhar se se preocupassem com a opinião dos grandes sommeliers mundiais, que são quem realmente vende o vinho.

Alguns dos melhores estiveram em Portugal durante três dias. A viagem teve o dedo de Patrícia Marques, da delegação da AICEP em Bruxelas, e de Éric Boschman, melhor sommelier da Bélgica, cronista e autor de um programa na televisão belga RTBF, que enviou uma equipa. Do grupo fez parte um outro belga, o sommelier William Wouters, casado com a enóloga Filipa Pato e um dos grandes embaixadores do vinho português na Bélgica.

João Pires faz o mesmo em Inglaterra. Depois de ter sido chefe sommelier no hotel The Capital e nos restaurantes The Vineyard e Gordon Ramsay, é hoje o director de vinhos do Hotel Mandarin Oriental, em Londres, cujo restaurante, Dinner by Heston Blumenthal, tem à frente o ex-chef do Fat Duck, considerado durante muito tempo o melhor restaurante do mundo.

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