Fugas - Vinhos

  • Vintage Noval Nacional 1963: 5570 euros a garrafa.
    Vintage Noval Nacional 1963: 5570 euros a garrafa. Fernando Veludo/Nfactos
  • Barbara Wanner (à esquerda), Eric Beaumard (ao centro) e João Pires (à direita)
    Barbara Wanner (à esquerda), Eric Beaumard (ao centro) e João Pires (à direita) Fernando Veludo/Nfactos

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A noite em que se bebeu o lendário Vintage Noval Nacional 1963


O vinho perfeito

Sempre pela esquerda, como manda a tradição, começa a rodar um decanter com um novo vinho, um vintage. Os sommeliers são desafiados a adivinhar. Não é fácil acertar, mas alguns andam lá perto. É um Noval Nacional. A surpresa chegou com a revelação da idade: 1970. Surpresa porque ninguém dá 41 anos a este vintage. Muitos outros já estariam a definhar, este parece estar ainda a iniciar a adolescência. Está cheio de vigor aromático, com muita fruta, e um palato amplo, picante e cheio de frescor. Fantástico.

O grupo desdobra-se em elogios ao vinho. Olivier Poussier, sempre cartesiano nas apreciações, destaca-lhe a profundidade e a elegância, Eric Beaumard diz tudo sem dizer nada, semicerrando os olhos e apertando os lábios. A conversa flui como o vinho. Com os espíritos de todos já exaltados, chega à mesa mais um Noval Nacional, o 1964. O bouquet é inspirador, mas na boca não confirma as expectativas criadas. Dizer isto assim até pode parecer sacrilégio, porque não deixa de ser um grande vintage. Mas percebemos que não é um vinho perfeito quando nos cruzamos com o vinho perfeito. E foi logo a seguir.

Não estava no programa, mas Corine não resiste ao momento e vai buscar à garrafeira mais um Noval Nacional. Serve o vinho sem abrir o jogo. Repete o desafio da adivinhação, adensa o mistério e depois diz as palavras que ninguém esperava: “Noval Nacional 1963”. O tal que custa 5570 euros. Para mim, e para mais uns quantos, era a primeira vez.

Não são necessários descritores para este vinho, mas podemos dizer tudo que não erramos: sedutoramente doce, picante, mentolado, poderoso na acidez e estrutura de taninos, perfeito no equilíbrio, enorme, intenso, completo. A quintessência de um Porto vintage. A noite pode acabar que já nada apagará a memória de um momento único.

Mas, já na sala de estar, e com o café, ainda se hão-de beber um Noval Crusted 1962 (muito bom) e, para fechar, com o grupo mais reduzido, um Noval Colheita 1964. Depois do Noval Nacional 1963, julgávamos que já nada nos poderia surpreender. Estávamos enganados. O Colheita 64 não é um vintage, é um tawny, mas não um tawny qualquer. Parece que explode na boca, de tão picante e voluptuoso. Pura magia. Um vinho sublime. Olivier Poussier confessa preferi-lo ao Noval Nacional 1963, que custa quase vinte vezes mais. Eric Beaumard já não opina nada, dominado pelo sono. Antes do jantar, já tinha sido eloquente e definitivo: “Nós temos em França grandes vinhos fortificados, mas nenhum se compara ao vinho do Porto.”


O elogio da acidez e da mineralidade

A maioria dos sommeliers que integram o grupo Mad Wine Lovers Of The World conhece bem e aprecia o vinho português. Olivier Poussier, por exemplo, é um grande apaixonado do Douro e da capacidade que esta tem, diz, “para a produção de grandes vinhos tintos de lote”. Mas nas provas e refeições em que a Fugas esteve presente (nos dois primeiros dias da visita) deu para ver que muitos produtores continuam a não “escutar a sirene dos mercados”, como sublinhava Eric Beaumard, insistindo em vinhos potentes, muito concentrados e cheios de madeira.

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