Fugas - Vinhos

DR/Harmonia ComProvada

Casamentos saborosos para os vinhos portugueses

Por José Augusto Moreira

O projecto Harmonias Comprovadas anda à procura dos vinhos mais indicados para 50 pratos tradicionais.
E se para um caldoso arroz de tamboril lhe propuserem um tinto, ou até mesmo um espumante para uma suculenta carne assada ou lampreia à bordalesa? No mundo dos vinhos, temos por adquiridos uma série de princípios, que em muitos casos não passam de preconceitos e que a prática se encarrega de desmistificar. E como são sobretudo concebidos para o contexto gastronómico, é na concreta combinação com as comidas que os vinhos revelam a suas verdadeiras apetências. 

Uma coisa são as provas técnicas, essencialmente destinadas a apurar as qualidades e defeitos de um vinho, e outra aquelas que se poderão designar como provas de consumo, onde o vinho se harmoniza com um prato em concreto. São estas que ditam as opções do consumidor, se bem que muitas das vezes condicionadas pelas opiniões dos especialistas.

A questão é que, a par das apreciações técnicas, raramente se dá atenção à avaliação daqueles que no dia-a-dia ditam o destino comercial de um determinado vinho. Ora, é precisamente com este propósito que o projecto Harmonias Comprovadas se lançou à tarefa de avaliar o casamento saboroso entre os mais variados vinhos do mercado e 50 pratos tradicionais portugueses. A ideia é de Alexandra Maciel, uma consultora de comunicação com largo trabalho na área, que assumiu o desafio de pôr os vinhos à prova em contexto gastronómico.

Além da permanente associação da comida ao consumo do vinho, o conceito distingue-se ainda pelo facto de o painel de provadores incluir sempre uma grande parte de não especialistas e de nas provas se utilizarem copos opacos. São, assim, provas onde a opinião dos especialistas e profissionais do sector se cruza com o gosto do consumidor, sem qualquer tipo de preconceitos ditados pela cor ou outros aspectos visuais dos vinhos. 

Mandam apenas os gostos de cada um. E os resultados vêm demonstrando que não há valores absolutos e que a valia de um vinho varia sempre em função do concreto desafio gastronómico que lhe é colocado.

Nesta altura estão já concluídas cerca de metade das provas e os resultados serão reunidos num livro a publicar até final do ano. 

Para afiar os apetites, aqui fica o registo de alguns dos resultados das últimas provas. Para o arroz de pombo bravo, confeccionado pelo restaurante São Rosas, de Estremoz, o júri elegeu o Margarida 2008, um tinto alentejano à base da casta Syrah criado por Susana Esteban, enquanto o Quinta da Viçosa 2009 foi o preferido para a combinação com o lombo de porco preto com massa de pimentão. Curiosamente, este mesmo vinho de João Portugal Ramos, um regional alentejano que combina Syrah e Trincadeira, tinha sido também o preferido na ligação com a lampreia à bordalesa, que foi confeccionada no restaurante lisboeta Pap"Açorda. No mesmo espaço teve também lugar o confronto deste mesmo prato com alguns espumantes, tendo a preferência do júri recaído sobre o Marquês dos Vales Bruto Rosado 2008, um espumante algarvio feito exclusivamente com uvas da casta Castelão.

Informações sobre o projecto e resultados podem ser consultados no blog harmoniascomprovadas.blogspot.com (se quiser ser um dos jurados, basta inscrever-se através do mail amaciel@amaciel.net).
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