No princípio era o Dão e os vinhos da região, mas rapidamente o projecto da Dão Sul acabou por se alargar a quase todas as zonas do país vinícola. E, até, ao Brasil. Um balão que rapidamente se encheu, neste caso de vinhos, tal como o ambiente de euforia económico-financeira que o país e o mundo viveram na viragem de século.
Foi com base na Quinta de Cabriz, em Carregal do Sal, que nasceu a Dão Sul, em 1989, e depois da fase de fulgurante crescimento, com investimentos que chegaram a ultrapassar os 20 milhões de euros, entradas e saídas de sócios e as convulsões que lhes estão sempre associadas, a empresa parece agora apostada na estabilização.
Mantendo a produção nas regiões do Douro, Verdes, Bairrada, Estremadura e Alentejo (além do Brasil, claro), Cabriz voltou a ser o centro de toda a actividade e os propósitos de “divulgação dos vinhos do Dão a nível nacional e internacional” inscritos desde o início como orientadores da missão empresarial, voltam a estar actuais. Osvaldo Amado, o actual responsável pela enologia do grupo, brinca até com um refrão que costumam agora utilizar na empresa para reforçar a ideia dessa aposta estratégica: “Dão é Cabriz e Cabriz é Dão”.
A empresa lidera destacadamente a produção e as vendas da região — a segunda, a Sogrape, não chega a metade dos números da Dão Sul — , o que é até visto como uma debilidade estrutural. “O Dão só pode voltar a ser grande quando tiver quatro ou cinco empresas a apostar forte na região. É preciso voltar à situação de 20 ou 30 anos atrás, quando havia produção e massa crítica. Falta o nome Dão em muitos sítios [de venda] e para isso é preciso haver vinho”, reforça Osvaldo Amado, que assumiu a responsabilidade por toda a enologia do grupo ainda há menos de dois anos.
Além do esforço de racionalização interna, a ideia é, pois, fazer com que Cabriz volte a ser vista como a imagem do grupo, sem com isto retirar qualquer importância à produção das outras quintas, quer no Dão quer nas outras regiões. “São produtos distintos, para segmentos distintos. Mantêm equipas próprias de enologia e o que se pede é que expressem as qualidades dos respectivos territórios”, explica o enólogo.
Seguindo o lema de que “em cada terroir, o melhor da região”, uma das ideias já aplicadas passou pelo fim “migração” de castas. Acabou-se a Touriga nos vinhos da Bairrada ou o Alvarinho no Alentejo e também os espumantes do Dão passaram a ter Encruzado, que, sendo a casta branca rainha da região, lhes dá também frescura e longevidade. Como exemplos dessa mudança, Osvaldo Amado aponta o Encontro I, um branco Bairrada exclusivamente com Arinto que é o topo de gama da região. Outra das grandes novidades está a ser preparada no Dão. Um Blanc de Noir (espumante branco de uvas tintas) exclusivamente Touriga Nacional que está a ser preparado para aparecer por altura do próximo Natal, depois de 24 meses de estágio em garrafa. “Estamos ainda a acompanhar a evolução. A ver vamos. Tem um estilo muito próximo ao champanhe”, diz o enólogo.