Um whisky bebe-se e pronto. Está lá tudo. Funciona por si mesmo. E então quando falamos de um belo single malt, feito com as finíssimas águas da Escócia e a saborosa cevada (primeiro maltada e, depois, seca com a turfa que lhe injecta o toque fumado e apimentado) a experiência não ganha uma dimensão sobrenatural, mas assume toques de divino.
A matéria prima do malte escocês é, de facto, um dos segredos da bebida inventada pelo famoso frade. Embora, actualmente, haja malt de outras proveniências que disputam o terraço dos deuses com os Rolls-Royce das ilhas britânicas. É o caso de algumas marcas japonesas que se batem, de igual para igual, com os ícones escoceses nos concursos internacionais.
No filme Lost in Translation, Bill Murray vai ao Japão gravar anúncios de um whisky local. Numa das cenas, antes de o spot começar a ser rodado, Murray prova o spirit e, pelo olhar, percebe-se que quer dizer algo do tipo: "Que grande zurrapa". Podia ser o caso, mas não é a regra. Os japoneses dão actualmente ao mundo maltes de grande qualidade.
Acontece, todavia, que os whiskeys japoneses, apesar da excelência, não apresentam fortes características distintivas entre si, o que é uma imagem de marca escocesa. Há, na terra onde a bebida foi concebida, whiskeys para todos os gostos, desde logo, incorporando a tradição que se foi vincando em cada região onde as destilarias estão a funcionar. E, depois, aproveitando o melhor que a natureza de cada local pode dar. Um malte de Islay é muito diferente do de Speyside, como um das Islands se demarca claramente do das Highlands.
Em Islay, por exemplo, há abundância de turfa, uma espécie de terra com propriedades combustíveis que é usada para secar o malte após a segunda germinação. Este ingrediente confere à bebida uma cor mais pronunciada e um toque fumado que muitas vezes insinua tons de iodo.
Já os maltes produzidos na zona de Speyside, mercê das propriedades da água utilizada nas destilarias, surge com um final mais doce, onde notas de caramelo podem sobressair, e uma componente acentuada de frutos.
Com o frio a apertar e o Natal à porta, o momento para um single malt está criado. Um whisky que é proveniente de uma mesma destilação e que, por isso, tem uma identidade própria, impossível de repetir no futuro. Um blend, que tem igualmente diferentes expressões de excelência, pode apresentar resultados mais próximos ao longo dos anos, mercê de uma gestão inteligente dos diversos lotes que são utilizados para compor a mistura.
Há quem defenda que um single malt é um músico que se apresenta sozinho. Um solista. Amanhã, ele pode ter outros músicos a acompanhá-lo, mas o resultado final não é o mesmo, é diferente.
No fundo, o mesmo acontece com os vinhos. Cada Barca Velha tem a sua identidade, o seu carácter, os seus sabores próprios, melhores ou piores do que os de outro ano, mas irrepetíveis. Com o single malt, é a mesma coisa.
Balvenie Single Malt 12 Anos. O segredo dos dois cascos
O single malt que convocamos para uma prova é um belo exemplar da região de Speyside, o Balvenie. No fértil vale banhado pelo famoso rio Spey, sucedem-se as destilarias, de marcas tão sonantes como o Glenfiddich, o Cardhu, o Glenlivet, o Macallan e, claro, o Balvenie.