Fugas - Vinhos

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    Vinhas de Carcavelos Pedro Cunha
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    O vinho Conde de Oeiras, actualmente envolto em batalha judicial pela denominação Miguel Manso

Opinião: Vamos beber Carcavelos

Por Rui Falcão

"Hoje o Carcavelos é um vinho obscuro e quase ignorado em Portugal, um vinho de produção quase virtual, um vinho de que poucos terão ouvido falar e de que ainda menos terão alguma tido ocasião ou vontade de provar". Mas vale a pena partir à descoberta dos vinhos de Carcavelos, garante Rui Falcão.

Todas as grandes famílias têm um parente tímido, um familiar mais calado e comedido nas palavras, um primo afastado de que pouco se ouve falar. A grandiosa família dos vinhos fortificados nacionais também tem um parente assim, um familiar pouco dado aos holofotes da fama, um primo afastado de que se conhece pouco e que raramente aparece ou se ouve falar.

Esse primo envergonhado chama-se Carcavelos e é parente directo dos outros três grandes vinhos generosos de Portugal, Vinho do Porto, Vinho da Madeira e Moscatel.

Apesar de fazer parte do grupo de vinhos históricos portugueses, apesar de ser uma das denominações de origem mais antigas de Portugal, criada em 1907 e demarcada em 1908, apesar de ser o vinho de Lisboa e de ter sido apadrinhado pelo mesmo Marquês de Pombal que elevou o Vinho do Porto à notoriedade mundial, hoje o Carcavelos é um vinho obscuro e quase ignorado em Portugal, um vinho de produção quase virtual, um vinho de que poucos terão ouvido falar e de que ainda menos terão alguma tido ocasião ou vontade de provar.

Não é seguramente por falta de peso histórico, por falta de tradição ou de qualidade que o Carcavelos chegou a este estado de entorpecimento. As vinhas estão plantadas na região desde o século XIV e os vinhos ganharam fama nos séculos XVIII e XIX, vendidos como vinhos nobres e aristocráticos. Um dos principais impulsionadores do vinho de Carcavelos foi o célebre Marquês de Pombal, quem sabe se motivado pela coincidência de possuir uma propriedade na região, a Quinta de Oeiras, e de ser um dos maiores produtores do vinho de Carcavelos. O vinho chegou a ser tão famoso e a influência do Marquês de Pombal tão grande que a Quinta de Oeiras chegou a “exportar” um terço da produção anual para a Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro, mais tarde conhecida como Real Companhia Velha, a fim de misturar os vinhos de Carcavelos com os vinhos do Porto da Real Companhia… para corrigir e melhorar os vinhos do Porto.

A verdadeira fama chegou mais tarde, a propósito das invasões napoleónicas e da presença dos homens de Wellington empenhados na defesa de Lisboa. O isolamento de Lisboa e a ocupação de parte do território pelas tropas francesas privou o exército inglês do abastecimento regular de Vinho do Porto, circunstância que favoreceu o surgimento da alternativa do Carcavelos, o vinho local igualmente fortificado que muito cedo ganhou os favores da armada britânica. Baptizado coloquialmente como Lisbon Wine, no regresso a casa os soldados e oficiais ingleses mantiveram a preferência pelo Carcavelos abrindo um mercado para ele.

O caminho do sucesso foi quebrado pelos primeiros surtos de oídio, a meio do século XIX, uma doença fúngica desconhecida na Europa que foi importada do continente americano e que dizimou grande parte das vinhas de Carcavelos. A produção teve quebras tão grandes, com valores que chegaram a atingir os 95%, que a exportação passou a ser impraticável, obrigando à perda do decisivo mercado inglês. Se o futuro já parecia incerto, a conjuntura ficou verdadeiramente lastimosa com a erupção da filoxera no terço final do século XIX, o parasita importado do continente americano que quase aniquilou as vinhas europeias.

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