João Roseira
João Roseira já foi mais irreverente, mas, apesar da idade o ter serenado, ainda continua a ser visto como o enfant terrible do Douro. Por trás do seu lado extrovertido esconde-se um verdadeiro amante do vinho, sobretudo do vinho com ligação à terra, feito na propriedade, na velha tradição do château francês.
Está ligado a alguns projectos vinícolas aliciantes, como os encontros Douro/Dão e o mais recente Simplesmente Vinho, aos quais imprime um cunho muito pessoal, quase sempre acrescentando-lhes uma componente musical. Nos últimos tempos envolveu-se também na realização de documentários sobre o vinho português e algumas das suas figuras mais relevantes. Mesmo que não tenham viabilidade comercial, as gravações não deixarão de constituir um importante espólio para o futuro.
Cultor dos produtos bio, João Roseira conseguiu convencer os familiares a converter uma parte das vinhas para o modo de produção biológico. Depois de ter sido a primeira a engarrafar e a vender Vinho do Porto de Quinta a partir do Douro, a Quinta do Infantado foi também a primeira a lançar um vinho do Porto biológico.
O Vinho: Quinta do Infantado Rótulo ?Dourado Tinto 2009
A Quinta do Infantado ganhou nome com a produção de vinho do Porto, segmento em que desenvolveu um estilo muito particular, baseado no menor uso de aguardente vínica, com o intuito de deixar os vinhos mais secos. Mas, como grande parte dos produtores de Porto, também produz vinhos tranquilos, por sinal muito bons. Um vinho que é a cara de João Roseira é o Quinta do Infantado Rótulo Verde Tinto 2009, de produção biológica. Não é fácil, por possuir um toque verde que não agradará a toda a gente, mas a sua frescura e pureza são magníficas. P.G
João Tavares de Pina
Alheio a modas ou tendências, desde sempre que João Tavares de Pina pratica na sua Quinta da Boavista, no Dão, uma “agricultura quase selvagem”, fiel à máxima de que os vinhos têm que ser tão só a expressão das uvas e da terra onde foram criadas. Mesmo que isso implique, por vezes, que sejam pouco vendáveis? “Há apenas que os guardar por mais algum tempo”, riposta, confiante em que com o tempo os consumidores se hão-de cansar dos “vinhos redondos e adocicados que nasceram com a tecnologia e acabaram por mistificar o produto”.
Apesar de ter andado por Bordéus a investigar a acção das leveduras, Tavares de Pina é uma espécie de irredutível que admite apenas “um compromisso ético com a natureza” e é até capaz de se abespinhar quando lhe falam em vinhos com esta ou aquela característica, para este ou aquele tipo de mercado. “Os vinhos têm que ser entendidos em todas as épocas e muito menos podem ser produzidos com orientações específicas”, defende, em consonância com o estilo dos seus vinhos, taninosos, tensos e vegetais, que só são lançados para o mercado depois de um mínimo de seis a oito anos após a data de vindima.
E mesmo que mantenha na adega vinhos que andam ao arrepio das tendências de procura, é com uma pontinha de orgulho que gosta de se afirmar contra a corrente. “Há quem não entenda, quem ache que somos loucos, mas começam também a aparecer aqueles que nos dão razão”, vislumbra. É por isso que procura uma certa expressão vegetal e a acidez nos seus vinhos. “É das notas vegetais que vem a frescura, a acidez reforça-a e é isso que faz sentido, já que os vinhos frescos são os que nos dão prazer”, conclui.
É nos 6,5 hectares das vinhas da Quinta da Boavista, em Penalva do Castelo, à vista da serra da Estrela e cultivadas em obediência às leis da natureza e com baixas produções, que Tavares de Pina produz os seus vinhos raros, fresco e saborosos. Para já são apreciados nos exigentes mercados do centro da Europa, mas acredita que o tempo começa também ao seu encontro. Duma coisa está absolutamente convicto: “Não vou nunca fazer concessões”.