Fugas - Vinhos

  • João Tavares de Pina
    João Tavares de Pina Adriano Miranda
  • Marta Soares
    Marta Soares DR
  • Dirk Niepoort
    Dirk Niepoort Adriano Miranda
  • João Roseira
    João Roseira DR
  • Mário Sérgio Nuno
    Mário Sérgio Nuno Adriano Miranda

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Os 'wine freaks' que estão a ajudar a mudar o vinho português

O vinho: Rufia 2012
Embora permaneça na memória a frescura e elegância de um varietal de Tinta Pinheira (Rufete) que provámos há cerca de dois anos, o Rufia é o vinho que melhor expressa a postura e convicções de Tavares de Pina. E não é só no nome que é feito para provocar. Com taninos vivos e a tal expressão vegetal que lhe confere frescura, é obtido da forma mais natural possível. Mistura as castas da propriedade (Jaen, Touriga Nacional e Tinta Pinheira), que com diferentes maturações acabam por se integrar por efeito da fermentação que decorre sem recurso a leveduras ou correcções. À irreverência natural somam-se aromas de frutos e flores silvestres, uma frescura granítica e até um toque salino que lhe acentua o sabor. J.A.M.

Mário Sérgio Nuno
A designação francesa de vigneron cabe-lhe na perfeição e é precisamente como agricultor de vinhas que Mário Sérgio Nuno gosta de ser conhecido. É claro que os vinhos e espumantes que produz na sua Quinta das Bágeiras têm o selo da sua identidade, mas prefere sempre acentuar que são a marca da natureza e das parcelas onde crescem as uvas.

Mais que a obediência a um conceito ou filosofia, Mário Sérgio faz até gala de uma certa humildade para explicar que segue apenas as regras da natureza e os ensinamentos que recebeu do avô e do pai, com os quais conviveu na lavoura e depois sucedeu na actividade de família. Não será bem assim, até porque os seus vinhos são hoje muito disputados no mercado nacional e têm fama que atravessa fronteiras, mas não deixa de ser também verdade que isso se deve em grande parte ao facto de não ter nunca transigido e embarcado em modas, tanto na vinha como na adega.

Uma convicção e apego à tradição que o levou a manter velhos vinhedos, lagares e tonéis de família, enquanto outros produtores da Bairrada plantavam castas internacionais e equipavam adegas com as mais modernas tecnologias.

Não cedeu também, nem cederá nunca, à moda dos espumantes adocicados, mesmo que a sua mãe nunca tivesse compreendido “a vergonha” de encaminhar a clientela para a concorrência quando lhe aparecia na adega a pedir vinhos secos ou meio-secos para os casamentos.

Nas Bágeiras só há espumantes brutos naturais e apenas com as castas típicas da região, e Mário Sérgio não poderia ter melhor reconhecimento do que o facto de contar entre os seus melhores clientes um restaurante francês de Epernay, no coração da região de Champanhe.

Para explicar os seus vinhos, muitas vezes pouco ortodoxos à luz dos modernos conceitos e técnicas, Mário Sérgio gosta sempre de recorrer às histórias de família, aos usos e costumes da velha agricultura da Bairrada. E precisamente pela diferença que seus garrafeira, tanto brancos como tintos (de Baga) são hoje tão apreciados, já que, como orgulhosamente costuma gracejar, “e o vinho fosse todo igual, era coca-cola”.

O vinho: Pai Abel “Chumbado”
Além de ser um branco extraordinário, com volume, mineralidade e acidez fora do comum, este vinho tem por traz do nome uma história que bem reflecte o estilo dos vinhos e a filosofia do produtor.

Em 2009, fruto de uma colheita que entendeu expressar na plenitude a tradição dos vinhos da família, Mário Sérgio decidiu dar aos melhores branco e tinto o nome de Pai Abel, homenageando assim o progenitor. Nos brancos, a qualidade permitiu que voltasse a haver um Pai Abel em 2010, e no ano seguinte assim seria, não fosse a câmara de provadores da Bairrada ter entendido que o vinho não reunia as características para obter a denominação de origem, reprovando-o.

Com vinhos em regra pouco ortodoxos, Mário Sérgio até estava habituado a obter a classificação em sede de recurso, mas preferiu desta vez optar pelo sarcasmo. O vinho foi engarrafado sem o selo da região mas com o “Chumbado” gravado no rótulo e subiu até o preço de 15 para 20 euros. Esgotou rapidamente e é um dos brancos mais apreciados de sempre. J.A.M.

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