No que diz respeito à comercialização, sendo ainda um pequeno produtor, e porque “as grandes empresas de distribuição não querem mais marcas para o seu portefólio”, estão sobretudo na região de Alcobaça, no El Corte Inglés em Lisboa, e olham para fora do país: já exportam para Inglaterra e estão a negociar com Angola e o Brasil.
Humus, biológico e com o mínimo de intervenção
Rodrigo Filipe tem desde o início uma ideia muito clara do que quer dos seus vinhos: que sejam biológicos e que sejam muito bons. “A opção pelo biológico é uma questão de ideologia, claro, mas o objectivo é produzir melhor vinho”, explica, quando nos recebe na sua Quinta do Paço, em Alvorninha, no concelho das Caldas da Rainha, para mostrar o trabalho que tem feito com os seus vinhos, o Encosta da Quinta e o Humus.
Não fez o curso de enólogo, mas dedicou-se de corpo e alma ao vinho e percorreu workshops e seminários para aprender tudo sobre o assunto. Mas o que o ajudou realmente foi a possibilidade de experimentar na sua quinta, e nas vinhas, que começaram a ser plantadas na década de 1990 ainda pelo pai, e a partir de 2002 por ele. Aponta uma encosta sem vinhas, de onde arrancou uma casta que não se deu tão bem como ele esperava – um exemplo de como trabalha por tentativa e erro até conseguir o vinho que quer.
Aproximamo-nos de outra encosta para Rodrigo explicar que a divide em três partes e faz a vindima separadamente, porque, mesmo sendo da mesma casta, as uvas são diferentes conforme apanham mais ou menos sol ou estão na parte de cima ou na parte de baixo da encosta. Na adega, tenta intervir o menos possível. Dá-nos a provar outra experiência: vinho natural, sem adição de sulfitos. “Só se pode fazer isto nos brancos com muita acidez, os vinhos ficam muito oxidados, e ficam mais resistentes e estáveis.” Não vai ser fácil convencer os consumidores portugueses a gostar deste vinho, mas o facto é que noutros países, nomeadamente nos nórdicos, os vinhos naturais são cada vez mais procurados.
Mas Rodrigo não gosta de seguir pelos caminhos fáceis e previsíveis: “Em Portugal, mesmo o vinho biológico ainda tem uma má imagem, mas eu sou de opinião que qualquer vinho de qualidade devia ser biológico.” A medalha de ouro num concurso internacional ostentada pelo seu Humus é prova de que isso é possível. A sua quinta faz parte da rota do vinho da região e é muito visitada, sobretudo por estrangeiros. Já exporta para quatro países e em Portugal está em lojas (como a Miosótis, de produtos biológicos) e em alguns restaurantes.
António, um vinho que transporta um local
Encontramo-nos com Marta Soares no Pachá, no centro das Caldas da Rainha, por entre tábuas de queijos, croquetes de espinafres, empadas e favinhas. E, claro, o seu vinho, o António – o nome do marido, que morreu durante a vindima de 2009. Bebemos o vinho de 2012 e depois o de 2006, e enquanto ouvimos Marta contar a sua história vamos percebendo como aquele vinho é único – e inesquecível.
Marta, artista plástica de formação e professora na ESAD das Caldas, não tinha qualquer ligação com o vinho. Vinha “do betão” de Lisboa quando, à procura de um atelier temporário, conheceu o Casal Figueira e o António – e apaixonou-se “perdidamente por tudo”. A planeada ida para Nova Iorque nunca chegou a acontecer, porque aqui encontrou “raízes, a ligação à terra”. António era completamente diferente: fazia vinho (formou-se em enologia em França) e surf, percebia o que era “estar em consciência” num sítio. Ah!, e sonhava fazer grandes vinhos brancos.