Os portugueses, naquela altura, não queriam saber de vinhos brancos. Por isso, nada foi fácil neste percurso. Marta descobria o que era a relação com um lugar, mas os vinhos não se vendiam e acabaram por perder a propriedade. Não desistiram. Trabalharam segundo os princípios da biodinâmica, “coisa para bruxas em Portugal naquela altura”. Recuperaram uma casta autóctone que estava praticamente desaparecida: a Vital. Preferiam ter menos produção e uvas mais concentradas.
Depois da morte de António, foi Marta quem continuou, sem fazer cedências. Trabalha com os produtores da serra de Montejunto, usando as velhas parcelas de Vital resgatadas do esquecimento. “Recuperámos uma cultura local, trabalhamos de forma a não adulterar o carácter das vinhas”. Hoje, António é um vinho que transporta um local, é “um postal vivo de um sítio”.
Cortém, onde o terroir é a música
Nas primeiras férias que passaram em Portugal, na Foz do Arelho, o engenheiro de som inglês Christopher Price e a sua mulher alemã, montadora de som, Helga Wagner, decidiram comprar aqui uma casa. Encontraram o local ideal em Cortém, perto das Caldas da Rainha, e foi aí que, a partir de 2004, se lançaram na aventura de fazer vinhos biológicos (certificados desde 2010) e já premiados em concursos internacionais. “Não temos enólogo mas já ganhámos medalhas de ouro”, dizem, orgulhosos.
É no meio da eira, numa zona elevada, que temos a melhor vista, da casa e dos cinco hectares de videiras que se estendem à nossa frente. Todos os vinhos de Chris e Helga chamam-se Cortém – há o Jaen, Tannat, Pinot Noir, Sauvignon Blanc/Viognier, Touriga Nacional/Touriga Franca/Syrah/Cabernet Sauvignon/Merlot e o Selecção Especial.
Mas, mais do que das castas, Chris gosta de falar do terroir. “O enólogo pode dizer que faz o vinho, mas é no campo que o vinho se faz. Eu só guardo o processo.” E esta região tem características especiais, garante. “Podem dizer que é mais um Cabernet Sauvignon ou mais um Jaen, mas é injusto, porque fazê-lo aqui não é a mesma coisa que fazê-lo noutra região. As castas são a escala, mas o terroir é a música”. E, acrescenta, a região de Lisboa “tem muitas possibilidades ainda não realizadas”.
O folheto que fizeram para apresentar o projecto inclui fotografias de petiscos sobre a longa mesa de madeira da sala de provas. É aqui que Chris e Helga recebem os muitos visitantes, quase todos estrangeiros, que passam por Cortém à procura dos seus vinhos. Fazem a prova, por vezes (é preciso marcar antes) servem petiscos e vendem aí os seus vinhos. O resto é exportado para a Alemanha, a Holanda, o Reino Unido. Mas gostavam de ganhar mais visibilidade em Portugal – afinal, estes são os vinhos de Cortém, aldeia portuguesa.
Vale Zias, uma história com sabor a pimentos
Um vinho com acentuado sabor a pimentos verdes pode ser uma aposta arriscada. Vários amigos avisaram Manuel Arsénio disso. Mas o enólogo do Vale Zias não ligou e hoje acredita que foi uma aposta ganha. Estamos a falar do Vale Zias Grande Escolha, feito com Cabernet Sauvignon, “um vinho muito tinto, com laivos violetas, e marcado pelos pimentos verdes”.