Fugas - Vinhos

Radek Mica/AFP

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Os novos mundos dos vinhos exóticos e improváveis

Vinhos provenientes de vinhas plantadas em todos os climas possíveis, de paragens tropicais a paisagens geladas, de terras áridas a terras húmidas, de pequenas ilhas a paisagens infinitas, do hemisfério norte ao hemisfério sul… quando não mesmo da linha que divide o equador. Alguns destes vinhos chegam ao ponto de serem produzidos em países ou regiões onde a religião dominante proíbe terminantemente o seu consumo.

A bacia mediterrânica de que estamos tão próximos oferece a primeira surpresa quando nos confrontamos com a existência de vinhos marroquinos, argelinos, tunisinos, libaneses, cipriotas e israelitas. A surpresa pode ser ainda maior quando descobrimos que três dos produtores libaneses conseguiram alcançar um estatuto e reconhecimento internacional de qualidade que os transformou em heróis num nicho de mercado que reúne alguns dos enófilos mais apaixonados do mundo.

Produtores valentes que, mesmo durante o longo e feroz período de guerra civil que devastou o país, nunca chegaram a interromper vindimas ou a produção, inclusivamente quando as suas vinhas, vindimas e adegas foram bombardeadas pelo fogo cruzado que fustigava o vale de Bekaa. As ilhas mediterrânicas também não deixam os seus créditos por mão alheia e países liliputianos como Malta dedicam esforço considerável na elaboração de vinhos diferentes mas aceitáveis.

Apesar dos tabus e da condenação muçulmana inflexível sobre o consumo de álcool, existem produtores no Egipto e Jordânia suficientemente afoitos para elaborar vinho… ainda que em condições filosóficas e materiais longe das ideais. Não serão vinhos extraordinários na qualidade pura, mas são seguramente notáveis pela tenacidade e coragem demonstrada.

A Rússia, esse gigante adormecido, engarrafa hoje quase tanto vinho quanto Portugal, embora muito provavelmente muito desse vinho seja oriundo de países terceiros, desde a Espanha à Moldávia. Moldávia e Ucrânia encontram-se igualmente entre os maiores países produtores do leste europeu, apesar de se ter de tomar com algum cuidado e circunspecção as estatísticas oficiais destes países.

Talvez não seja fácil admitir o facto, mas tanto a Suíça como o Luxemburgo começam cada vez mais a afirmar-se como uma referência internacional nos vinhos de qualidade superior. Apesar de ter ignorado durante anos qualquer esforço para exportar ou dar a conhecer os seus vinhos, a Suíça ganha um reconhecimento cada vez maior pelos seus Pinot Noir, Riesling e Merlot, alguns dos quais, tal a inclinação das encostas das montanhas, têm de ser vindimados com o auxílio de helicópteros.

Como se estas distinções não bastassem, algumas das vinhas suíças fazem parte do grupo muito restrito das paisagens vinícolas identificadas como Património da Humanidade pela UNESCO, tal como o são as paisagens dos vinhos do Pico ou do Douro.

Talvez ainda mais surpreendente seja ouvir que a Bélgica produz vinhos, alguns dos quais bem interessantes, e que a Holanda conta com mais de uma dúzia e meia de produtores registados que se especializaram na produção de vinhos espumantes elaborados próximo das colinas da cidade de Maastricht.

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