Fugas - Vinhos

Radek Mica/AFP

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Os novos mundos dos vinhos exóticos e improváveis

Também a Inglaterra continua a fazer um esforço real para produzir vinhos agradáveis, embora não seja fácil descobrir verdadeiras preciosidades para além dos vinhos espumantes. A produção inglesa, porém, começa a dar cartas nesse mundo tão particular dos vinhos espumantes, recebendo elogios cada vez mais frequentes e arrebatados dos principais líderes de opinião internacionais.

Sei que será difícil acreditar pelo insólito e pela aparente impossibilidade material e natural, mas mesmo países como a Dinamarca já se lançaram na loucura de produzir vinhos. Surpresa das surpresas, até na Suécia e Finlândia se faz vinho, incluindo uma pequena produção de vinho tinto que surpreende pela escassa distância da linha polar ártica. No caso finlandês, a razão para tal milagre deve-se à localização da vinha na vizinhança de uma central nuclear que, graças ao calor das torres de arrefecimento, consegue derreter a neve e criar um microclima que permite o cultivo da vinha a latitudes tão nortenhas.

Mas se quisermos aumentar o grau de exotismo, assinale-se que também se faz vinho na Venezuela, no Peru ou na Bolívia.

Enquanto algumas vinhas venezuelanas permitem a produção de duas colheitas anuais graças ao clima tropical, as vinhas bolivianas esmagam recordes de altitude, chegando a atingir cotas de 3.300 metros acima do nível médio do mar, garantindo assim a sobrevivência da planta em condições semidesérticas. Numa pequena vinha venezuelana, um produtor tentou com sucesso obter três colheitas num só ano. O êxito das primeiras produções foi prontamente esquecido quando as videiras começaram a morrer de exaustão ao fim de pouco mais de cinco anos de produção.

No Uganda, em África, existe uma vinha plantada num dos locais mais improváveis do mundo, directamente na linha do equador. A plantação foi feita por missionários franceses que desejavam assegurar a produção de vinho para a eucaristia das igrejas locais. Por só existirem duas estações climáticas ao longo do ano, a estação seca e das chuvas, a videira acaba por produzir duas colheitas por ano tal como é tradicional nos países de clima tropical. E claro, o rol de países exóticos continua em crescendo quando nos abalançamos para longe da zona de influência europeia e nos dirigimos para a Ásia.

O Japão há muito que tomou a dianteira regional com registos do cultivo da vinha desde o século XIX. Se durante pouco mais de um século o vinho se manteve como um produto exótico, a produção local diversificou-se nos últimos vinte anos, começando a ganhar um protagonismo inesperado. Por sua vez a China despertou para o vinho há menos de uma década mas, como em tudo a que se dedicou durante os últimos quinze anos, o país assegura já o quinto lugar na produção mundial, mostrando um crescimento exponencial que o guiará prontamente ao topo máximo da hierarquia.

Depois segue-se uma lista infindável de paragens ainda mais excêntricas como a Índia, que produz um vinho espumante que a colocou no mapa, a Geórgia, que ganha cada vez mais relevância com o revivalismo dos vinhos produzidos em talhas de barro, a Tailândia, Coreia, Vietname e Camboja, país onde a vinha é plantada em ilhas artificiais de terra e canas que flutuam de forma livre pelo meio dos canais.

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