Fugas - Vinhos

  • Paulo Pimenta
  • Ricardo Silva
  • DR

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Estará a Touriga Franca a destronar a Touriga Nacional?

À medida que os novos vinhos DOC foram ganhando reconhecimento nacional e internacional e os prémios se foram acumulando, a plantação da casta foi também crescendo, primeiro no Douro, depois no resto do país. E a sua notoriedade aumentou de tal forma que, a partir de um certo momento, a Touriga Nacional começou a ser vítima do seu próprio sucesso. Entre a crítica e alguns enólogos mais inconformistas, passou a ser démodé falar bem da Touriga Nacional.

Por outro lado, a ânsia de novidades e um maior conhecimento de outras castas tem feito emergir outras variedades e aberto caminho a novas experiências à margem da Touriga Nacional. “No Douro, sobretudo, é necessário fugir um pouco à rusticidade que ainda marca os seus vinhos e começar a pensar noutras castas, para lhes dar mais elegância e frescura”, defende Anselmo Mendes.

O enólogo minhoto, ligado aos vinhos durienses da Quinta da Gaivosa, Calheiros Cruz e Quinta dos Frades, dá como exemplo o Rufete, a Tinta Carvalha, a Tinta da Barca, a Tinta Amarela e o Alvarelhão, mas podíamos acrescentar também o Bastardo, a Tinta Francisca e o Donzelinho. Estas e outras castas faziam parte do encepamento tradicional do Douro e ainda estão presentes nas vinhas mais velhas.

De todas, a Touriga Franca continua a ser a casta mais plantada na região (ocupa cerca de 25% do encepamento total) e este domínio não é recente. Para o agricultor, é a variedade perfeita: produz bem, é fácil de conduzir e trabalhar na vinha, é pouco susceptível a doenças (menos à traça), resiste muito bem ao calor e à seca e ainda origina vinhos de grande qualidade. Mas não é tão adaptável como a Touriga Nacional, razão pela qual não se tem expandido tanto pelo resto do país. É uma casta que gosta de calor e que em zonas mais quentes ganha asas, originando vinhos potentes, complexos, altivos e com grande capacidade de envelhecimento.

A Touriga Franca encontrou no Douro, sobretudo no Douro Superior, o seu terroir. Mas mesmo aqui nunca conseguiu viver sozinha. Todos falam bem da casta, todas a adoram, mas é raro encontrar no mercado um vinho estreme de Touriga Franca.

Quando desafiado a indicar alguns dos seus vinhos que pudessem testemunhar a qualidade da Touriga Franca, Dirk Niepoort demorou alguns segundos até indicar um, o Charme, feito a partir de vinhas velhas com uma presença significativa de uvas daquela casta. Os poucos vinhos estremes de Touriga Franca que existem são do Alentejo e os melhores talvez sejam o Scala Coeli 2009 (da Cartuxa) e o Partage 2008, da Herdade do Portocarro (39 euros).

No Douro, a Touriga Franca sempre foi uma casta com vocação de lote e que ganha com a companhia de outras variedades. A excepção deu-se com o primeiro Bafarela 17, em 2014, um vinho com 17 graus de álcool e feito à base de Touriga Franca. A Touriga Nacional também gosta de companha, mas já uma há uma lista considerável de monovarietais da casta em todo o país.

No Douro, de acordo com um levantamento recente feito Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), o número de registos de vinhos estremes de Touriga Nacional subiu de 66, em 2006, para 141, em 2013. “É surpreendente. Estava à espera que tivesse havido uma diminuição, porque tinha a ideia de que a Touriga Nacional estava a passar de moda”, diz Bento Amaral, presidente da Câmara de Provadores do IVDP.

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