A ideia de que a Touriga Franca está a destronar a Touriga Nacional poderá corresponder mais a uma percepção ou a uma tendência do que a um facto real. Em área de vinha, já a destronou há muito. Embora esteja a crescer todos os anos, a vinha de Touriga Nacional no Douro, por exemplo, ainda não passa dos 5% do total. Mas em termos de notoriedade a Touriga Nacional continua a ser a grande referência. “A Touriga Franca é capaz de conseguir um maior equilíbrio na vinha, mas os vinhos de Touriga Nacional são melhores. Têm mais equilíbrio na boca e são menos rústicos”, defende Bento Amaral.
Jorge Alves, enólogo da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e da Quinta do Tedo e produtor, junto com Celso Pereira, dos vinhos Quanta Terra e Terra a Terra, partilha da mesma opinião: “Continuo a gostar mais da Touriga Nacional por uma questão de textura. É mais sedosa na boca, enquanto a Touriga Franca é mais firme”. Já Rita Ferreira, que faz os vinhos Conceito e Contraste, não vê sentido nesta dicotomia. “Já houve a moda de que a Touriga Nacional era a melhor coisa do mundo, agora é a Franca que é a melhor do mundo.
As duas castas são super importantes e completam-se muito bem”, advoga, embora confesse preferir um vinho monovarietal de Touriga Franca. “É mais completa em termos de estrutura”. Luís Sottomayor, o enólogo chefe da Casa Ferreirinha, não concorda. “A Touriga Nacional tem mais personalidade”, defende, reconhecendo, no entanto, que a Touriga Franca “está a dar muitos bons vinhos”.
O que se começa a notar é a inversão dos contributos das diferentes castas nos lotes dos vinhos. Nos melhores vinhos da região, a participação de Touriga Franca tem vindo a crescer e a de Touriga Nacional a diminuir. “Quando for tão estudada como a Touriga Nacional, é possível que a venha a destronar. Por agora, ainda não”, acrescenta Luis Sottomayor.
São centenas os clones de Touriga Nacional que já existem. Não há outra casta em Portugal que tenha sido tão dissecada e desenvolvida. A Touriga Franca, como foi sempre mais regular, não tem merecido a mesma atenção. Por outro, também não tem a espessura histórica da Touriga Nacional. Nem podia, porque a Touriga Franca é filha da Touriga Nacional. O “pai” é o Marufo, mais conhecido por Mourisco.
Do cruzamento entre a Touriga Nacional e o Marufo nasceram também a Tinta Barroca, a Tinta Melra, a Tinta da Barca, a Tinta Aguiar e uma variedade descoberta recentemente e que tem a referência provisória de 5083-16. Dos progenitores da Touriga Nacional nada se sabe ainda. Uma tese possível é ter resultado da domesticação de uma videira selvagem, o que, a ser verdade, explicaria a forma rebelde e difícil como se comporta na vinha.
O palco ainda pertence à Touriga Nacional, mas o tempo corre a favor da Touriga Franca. Uma parte das regiões vitícolas nacionais já tem características similares a um deserto e o recurso à rega vai deixar de ser uma excepção para se tornar numa necessidade. Mas a água não resolve problemas como a insolação excessiva, por exemplo, para além de que também será um bem escasso e caro.