Fugas - Vinhos

  • O galego Gonzalo Pedrosa está à frente da Sogevinus
    O galego Gonzalo Pedrosa está à frente da Sogevinus Maria João Gala
  • Porto Calém
    Porto Calém Maria João Gala

Os extraordinários Porto velhos da Cálem e das suas irmãs

Por Manuel Carvalho

O grupo Sogevinus passou por uma difícil reestruturação e está de volta à vida. A ambição da sua equipa de gestão é colocar os seus Porto brancos e Colheita no topo da pirâmide do vinho do Porto. Uma prova de vinhos entre 1941 e a actualidade mostra que a casa tem trunfos para ir a jogo.

Os vinhos do Porto vintage continuam a ser o grande fenómeno do sector, principalmente por estes anos em que se vive ainda a euforia da colheita prodigiosa de 2011, mas é oficial que estão a ceder parte do seu protagonismo aos vinhos que passam décadas a envelhecer em cascos nas caves sombrias de Gaia. Para empresas com uma forte herança portuguesa como as que integram o grupo Sogevinus, essa é a melhor notícia possível. Porque muito antes do padrão de gosto anglo-saxónico ter imposto o culto dos vintage, era nas categorias tawny que gestores e enófilos das famílias Cálem, Barros ou os Burmester, alemães com sotaque do Porto, apostavam. Gonzalo Pedrosa, o galego que está à frente da Sogevinus, pode dizer que tem uma enorme fé no futuro do sector porque tem à sua disposição um enorme passado.

Uma prova de alguns dos vinhos das marcas da Sogevinus é um delicioso regresso a essa herança. Como o grupo resulta de um processo de aquisições que se iniciou em 1998 com a compra da Cálem e acabou em 2006 com o controlo da Barros e da Kopke (2003 foi o ano da compra da Burmester e da Gilbert a Américo Amorim), o seu património de vinhos é muito diferenciado entre si. No cúmulo dos Colheita ou dos tawny com indicação de idade (10 anos, 20 anos, etc.) é fácil constatar que os Cálem são vinhos mais contidos nas suas expressões aromáticas do que, por exemplo, os Kopke. O culto dessas diferenças continua hoje a ser alimentado pela equipa de enologia coordenada por Carlos Alves e Ricardo Macedo.

Se ao nível dos vintage a crítica continua a eleger as produções dos Symington ou da Fladgate Partnership (Taylor’s, Croft e Fonseca), ao nível dos Colheita e dos tawny qualquer escolha tem de considerar as propostas da Sogevinus. O 40 anos da Cálem é seguramente um dos grandes vinhos desta categoria. O 1965 da Kopke é sem dúvida prodigioso. E os brancos da Kopke, de 20 ou 40 anos, proporcionam uma experiência rara. O que falta, então, para que estes vinhos saiam do leque apertado das discussões entre especialistas e se tornem em casos de devoção pública? Duas razões. A primeira é que a Sogevinus só agora começa a sair de uma tempestade financeira que a levou ao limite em 2010/2011; e a segunda é porque o fenómeno dos vinhos velhos, frágeis e isentos do fulgor da novidade ainda não se consolidou.

Gonzalo e a sua equipa têm pela frente uma dura tarefa para alterar a vaga de fundo. A sua estratégia passa por vender menos quantidade e recentrar o grupo nas gamas mais altas. Com essa preocupação, o gestor traça um objectivo ambicioso: “Nos vintage queremos ser reconhecidos, mas nos Porto brancos e nos colheita queremos ser a referência”, avisa. Para lá chegar, toda a empresa foi redesenhada. A força de trabalho reduziu-se de 200 para 137 trabalhadores, centros e linhas de engarrafamento foram encerrados, a dívida, colossal, foi reestruturada. “Hoje produzimos menos, mas os resultados são melhores”, diz Gonzalo Pedrosa.

A lógica do vender menos mas mais caro obriga a empresa a refocar os seus alvos e a olhar mais atentamente para os stocks de 17 milhões de litros de vinho do Porto que a empresa tem distribuídos por sete armazéns – o vinho mais antigo remonta a 1890. Até 2010, as empresas da Sogevinus vendiam em média 15% dos seus produtos para marcas brancas, nas quais os preços são baixos e as margens de lucro reduzidas. Hoje, sobra um cliente que representa 1% do total. Como era impossível encontrar alternativas para uma tão grande quantidade de vinho, o grupo fez cortes nas compras de vindima. Como consequência, o grupo, que facturava 45 milhões em 2010, factura hoje apenas 40 milhões; se há cinco anos produzia 6,2 milhões de litros de vinho do Porto, este ano deve ficar-se nos 5,6 milhões de litros – em 2012, no auge da reestruturação, vinificou apenas três milhões de litros de vinho do Porto. 

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