O projecto consolidado na empresa desde que Gonzalo Pedrosa assumiu a sua gestão, em Novembro de 2011, prevê o lançamento de três ou quatro colheitas por ano, para lá de manter as suas ofertas em termos de tawnies com indicação de idade. Nos casos de colheitas raras, o número de garrafas colocadas no mercado pode chegar às duas ou três. Vinhos que estão nos seus 50 anos (como o Kopke 1965) ou, no ano passado, uma edição especial de um colheita de 1974 para comemorar as quatro décadas do 25 de Abril são o essencial da estratégia – que, aliás, outras empresas, como a Taylor’s ou o grupo Symington, estão igualmente a desenvolver. Depois há ainda um topo de gama feito a partir de um lote com uma idade situada entre os 55 e os 60 anos, o Barros 101 Very Old Tawny.
O que se pode dizer da generalidade destes vinhos é que, cada um à sua maneira, estão entre o que de mais extraordinário se faz na galáxia do vinho do Porto. Os lotes dos tawny com 20 ou 40 anos conseguem um balanço excelente entre a patine exótica e sofisticada dos ingredientes do tempo e um frescor jovem que lhe confere músculo e vivacidade. E o trabalho de acompanhamento dos Colheita mostra não apenas zelo, como sabedoria. “O vinho é um ser vivo. Precisa de arejamento, de correcções no seu teor alcoólico” diz Carlos Alves. O único trabalho a que são sujeitos antes do engarrafamento é “uma ligeira filtragem para lhes dar brilho”, acrescenta o enólogo.
Com um novo posicionamento que ajudou o sector do vinho do Porto a suspender o caminho perigoso em direcção ao comando das marcas brancas, a Sogevinus, detida a 100% pelos galegos da Abanca (uma instituição financeira galega que foi comprada pelo banco venezuelano Banesco), está em transição. O grupo, que, diz e repete Gonzalo Pedrosa, nunca esteve à venda, apesar de rumores insistentes que apontavam para essa possibilidade, sente-se agora em condições de apresentar resultados positivos e de encarar o futuro com outra tranquilidade. O magnífico acervo de grandes vinhos velhos que existem nas suas caves são a melhor garantia para essa ambição.
Seis vinhos para o estrelato
Cálem 40 anos
Sem dúvida um dos melhores vinhos desta categoria em todo o sector. “É o ícone da Cálem”, nas palavras do enólogo Carlos Alves, e não é difícil perceber porquê. Aromas intensos de fruta seca, especiaria, prenúncios de vinagrinho que lhe concedem graça e frescura. Na boca é um vinho cheio, com enorme complexidade, deixando no final um rasto de chocolate, de pimenta e uma concentração de aromas de fruta seca que se prolonga por uma infinidade de tempo. Um vinho do Porto de enorme classe. Preço: 130 euros
Cálem Colheita de 1961
Uma bomba aromática, um vinho sedoso e untuoso, quase mastigável, que deixa uma explosão de sensações na boca. Estão lá os atributos da categoria, muita avelã e amêndoa seca, notas de casca de laranja cristalizada, mas a acidez viva deste vinho, a sua profundidade, o seu balanço e a sua complexidade levam-no para outro patamar. O seu final de boca é longo e notável, no qual é impossível não notar uma certa mineralidade. Um Colheita do outro mundo por um preço que não dá para pagar um Bordéus ou um Borgonha de segunda divisão. Preço: 150 euros.