Fugas - Vinhos

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O regresso triunfal da Sogrape ao “Velho Mundo” do Vinho

É dia de enxertia na Viña Lanciano. Há trabalhadores a escavar as videiras, outros a colocar os garfos e outros a tapá-los com terra arenosa retirada junto ao rio. Desde que tomou conta da empresa, a Sogrape tem vindo a reconverter algumas parcelas de vinha que estavam instaladas com castas francesas. As variedades Tempranillo (a casta dominante da Rioja), Mazuelo, Graciano (tintas) e Viura (branco) são a base dos vinhos da LAN. A maior parte da vinha está instalada em vaso, sem qualquer tipo de aramação, como é comum na Rioja, e tem mais de 40 anos. Uma das parcelas, denominada El Rincón, terá perto de 100 anos e é daqui que saem as uvas para os tintos Lan a Mano e Culmen, os vinhos de topo da Sogrape na Rioja. Para as restantes gamas, e além das uvas próprias, a empresa conta com mais cerca de 400 hectares de viticultores locais a quem compra a produção.

O regresso à Ibéria
Depois da aposta no “Novo Mundo” do vinho, com a compra da Finca Flichman na Argentina, Los Boldos no Chile e Framingham na Nova Zelândia, a Sogrape regressou ao “Velho Mundo”- e veio para ficar. Portugal e Espanha são agora os principais focos da empresa. 

Espanha “sempre foi um objectivo da Sogrape”, diz Fernando Guedes. A companhia portuguesa já estava em Jerez com a marca Sandeman, mas com o continuado declínio desta região as atenções da empresa começaram a dirigir-se para a Rioja, o primeiro dos quatro “r” que estão a fazer andar a Espanha vinícola. Os outros são Ribera del Duero, Rueda e Rias Baixas. Com a compra das Bodegas LAN, a Sogrape fez um pocker, porque a companhia espanhola tem vinhas e adegas na Rioja nas Rias Baixas (Bodegas Santiago Ruiz, em Rosal) e marcas em Ribera del Duero (Marquês de Burgos) e Rueda (Duquesa de Valladolid). 

O grupo português chegou a Espanha com a paciência dos sábios. Depois de um primeiro namoro com as Bodegas LAN em meados da década passada, aproveitou o auge da crise para comprar a empresa por um preço muito mais baixo do que teria pago se o namoro anterior tivesse dado resultado. Antes, em 2010, ainda andou a negociar a compra da Domeq Wines, um verdadeiro colosso em Espanha e detentora de várias marcas importantes na Rioja, como Campo Viejo, Viña Alcorta e Ysios. O seu elevado custo fez abortar o negócio. 

A compra da LAN aconteceu em contraciclo, mas está a revelar-se um verdadeiro sucesso. É uma das operações da Sogrape que mais crescem. Por cerca de 50 milhões de euros - menos do que custou a compra, uns meses depois, da participação que Joe Berardo detinha na Sogrape (cerca de 30%) -, o maior grupo de vinhos português adquiriu uma empresa implantada há cerca de 40 anos na Rioja, com um posicionamento “premium” e marcas já firmadas no mercado, 72 hectares de vinha (e mais 38 hectares na Galiza) e uma adega com capacidade para elaborar mais de cinco milhões de litros de vinho e dotada de uma inovadora e assombrosa cave onde estagiam cerca de 20 mil barricas (ver texto ao lado). 

Não é a adega mais bonita de Rioja vista de fora. Não tem, por exemplo, a beleza das adegas Ysios (desenhada por Santiago Calatrava) e Viña Real (da Companhia Vinícola do Norte de Espanha e projectada pelo arquitecto francês Philippe Mazieres); também não se compara com o radicalismo estético do famoso hotel vínico de Marquês de Riscal em Elciego, idealizado por Frank Gehry; não tem sequer a patine, nem a espessura histórica das Bodegas López Heredia (Viña Tondónia). Mas há poucas que consigam ser tão eficientes. “É um relógio suíço”, assegura Fernando Guedes. O seu nível de automatização é tal que meia dúzia de pessoas bastam para assegurar a parte de vinificação e a gestão de todo o parque de barricas. No total, trabalham nas Bodegas LAN apenas 50 pessoas. Em 2014, a facturação da empresa ascendeu a 18 milhões de euros (cerca de quatro milhões de garrafas vendidas), o equivalente a 9% da facturação total do grupo Sogrape. 

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