Fugas - Vinhos

  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • DR
  • Maria João Gala

Continuação: página 3 de 5

Cinco variações para um grande estilo

Quando uma firma decide finalmente colocar o seu vinho no mercado, tem a obrigação de mencionar a data do engarrafamento. Ao contrário dos Vintage, que foram desenhados para envelhecer em garrafa, os Colheita são de outra natureza e, diz-se numa opinião algo contestada, não evoluem no ambiente redutor. Em tese, portanto, quando mais depressa se beber um Colheita que está à venda, melhor. Mas, se os Colheita não evoluem em garrafa, não quer dizer que se estraguem. “Um Colheita aguenta quatro ou cinco anos em garrafa sem sofrer qualquer problema”, considera Luís Sottomayor. Há até mesmo especialistas, como Dirk Niepoort, que defendem a passagem dos Colheita por alguns anos de garrafa para refinarem ainda mais a sua complexidade.

A verdade é que se podem beber colheitas com 20 anos de garrafa em excelente condição. Numa prova recente experimentaram-se dois Noval de 1937, um engarrafado em 1984 e outro em 2014. Ambos estavam excelentes, embora o vinho que foi para a garrafa há menos tempo exibisse uma intensidade e um volume de boca superior, enquanto o Colheita engarrafado em 1984 deixava já aromas em sabores que se podem encontrar em Vintage com décadas de garrafa.

Por tradição, os Porto Colheita são mais cultivados nas firmas de origem portuguesa do que nas casas britânicas. Pequenas casas como a Poças, a Andresen ou a Cálem (hoje no grupo Sogevinus) tinham nesta categoria o trunfo para enfrentarem a aura dos Vintage. Hoje o seu património é altamente cobiçado e, para muitas empresas, tornou-se o caminho seguro para poderem reclamar para si os louros da excelência que os seus Vintage jamais lhes permitiram disputar.

A Gran Cruz, por exemplo, lançou nos últimos anos alguns vinhos magníficos, com destaque para os Brancos Colheitas de 1952 e 1963. O património de colheitas acumulado ao longo de gerações pela Wiese & Krohn, uma companhia de origem norueguesa, esteve base da sua compra pela Fladgate Partnership, em 2013. A Rozés não comercializa Colheita, mas há alguns anos, numa apresentação privada, deu a provar um 1947 fora de série. Nos últimos anos, o grupo Symington começou a olhar com outro interesse para o seu imenso potencial de vinhos com data de colheita e colocou no mercado vinhos desta categoria de enorme qualidade. Mas é impossível falar neste estilo de vinho do Porto sem mencionar duas das suas marcas de referência: a Niepoort e a Noval. Curiosamente, no grupo Sogrape (que inclui gigantes como a Sandeman ou a Ferreira), só a Offley tem concedido atenção a esta categoria.

Por regra, as companhias disponibilizam no mercado três a quatro colheitas por ano. A obrigação de engarrafar estes vinhos apenas após sete anos de casco é geralmente acolhida como uma indicação, já que na maior parte dos casos os Colheita são considerados prontos pelos provadores aos dez anos, ou mais, de vida. Há também oportunidades comerciais que não são descuradas. Por exemplo, começa a estar na moda a venda de colheitas com 50 anos de idade – estão aí, por exemplo, os 1965 da Cálem. As efemérides são também comemoradas com edições especiais, como o Kopke de 1974 destinado a celebrar os 40 anos do 25 de Abril. Há três anos a Graham´s lançou no mercado um extraordinário Colheita de 1952 para celebrar o início do reinado de Isabel II.

--%>