A Baga e o Encruzado mantêm-se ainda naquele que será o seu território natural enquanto as outras estão um pouco disseminadas por todo o território. É defensor desta diversificação ou entende que cada casta tem o seu espaço natural?
Toda a gente diz que pertencem a um território natural e não tenho dúvidas quanto a isso. Eu próprio tenho Baga no Dão, na Bairrada e no Alentejo e nos três territórios os vinhos são distintos. Consigo no Alentejo vinhos regulares todos os anos, não têm que ser obrigatoriamente excelentes mas consigo um tipo de vinho com consistência regular, enquanto na Bairrada tenho com regularidade vinhos excelentes. Nos mesmos anos em que na Bairrada tenho vinhos únicos não é obrigatório que no Dão ou no Alentejo se fique com vinhos no mesmo registo.
No caso da Encruzado creio que não há muitas experiências fora do Dão, mas tenho algumas duvidas que consiga a mesma expressão noutras regiões.
Falando da Bairrada, é uma região que volta a chamar a atenção dos especialistas e a obter reconhecimento. Foi a região que mudou ou é o mundo que começa a agora a descobrir de os seus vinhos?
O mundo começa a descobrir a Bairrada porque a Bairrada começa também a mostrar-se. Os ciclos existem, as modas existem, mas se recuarmos duas ou três décadas constatamos que era a Bairrada a grande região engarrafadora do país. Faziam-se milhões de garrafas, tanto de espumantes como de vinhos tranquilos, brancos e tintos. E depois havia outras regiões fora de Portugal.
Em meu entender, os vinhos da Bairrada deveriam ter um consumo muito maior. Não há dúvidas de que nos últimos dez anos houve um enorme salto qualitativo, mas o problema é que é uma região de minifúndio e não tem muitos recursos para divulgar e comunicar. Mas que se estão a fazer coisas fabulosas disso não tenho dúvidas
Com o seu prestígio como criador de espumantes e sendo a Bairrada a região com mais história neste tipo de vinhos, como vê aquilo que se vai fazendo por todo o país?
Vejo com muito bons olhos. Há lugar para todos, para diferentes estilos, todos os preços e todas as gamas. Quanto mais se produzir, desde que seja com qualidade, só pode valorizar o espumante. Nós sabemos que a Bairrada tem dons naturais e é a região de espumantes por eleição, mas ao contrário do vinho ainda não arrisco a dizer que há um espumante português. Portanto, todos somos ainda poucos e o desafio que deixo às outras regiões é que façam bem, façam muito, divulguem e se um conseguir exportar os outros também vão a seguir. A explosão do consumo de espumantes é uma realidade e representa uma oportunidade para todos.
E como avalia a qualidade dos espumantes que se vão fazendo em todo o país?
Há duas regiões que indiscutivelmente estão num segmento superior, que são a Bairrada e Távora-Varosa. Tudo o resto que se vai fazendo são esforços que temos que acarinhar e precisam do nosso apoio.
Olhando para o mundo, concorda com a ideia de o vinho é hoje um produto que está na moda?
Definitivamente. O vinho sempre foi considerado um produto alimentar, pelo menos no chamado velho mundo onde faz parte da dieta de todas as classes sociais e o consumo tem longos e longos anos. A par desse consumo histórico, assume hoje também uma vertente de produto de moda. É um produto de moda e um produto que está na moda.