Fugas - Vinhos

Dirceu Vianna Júnior, fotografado no Hotel The Yeatman, no Porto

Dirceu Vianna Júnior, fotografado no Hotel The Yeatman, no Porto NFactos/Ricardo Castelo

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“Podem degustar-se 50 vinhos por dia mas há vinhos que nunca mais se esquecem”

E foi quando começou a trabalhar como garçon num restaurante?

Não. Como assistente de garçon, porque eu falava [inglês]. O meu amigo foi trabalhar noutro restaurante na cozinha porque não sabia falar inglês. Depois de uma ou duas semanas, fui promovido para garçon e uns três meses depois o gerente foi abrir um restaurante e levou-me para ser o gerente.

E começa aí o seu interesse por vinhos?

Eu não sabia nada sobre vinhos e precisava de fazer a carta, como é que ia fazer? Fui estudar hotelaria no Westminster College. Eram vários cursos, um deles de vinhos. Fui especializar-me e formei-me na Wine Spirit Education Trust, que é uma das melhores escolas de vinho do mundo.

E hoje é director de uma das grandes importadoras de bebidas de Inglaterra.

Tenho que escolher os vinhos que vamos comprar em todo o mundo. Temos cerca de 2000 na carta, desde vinhos do dia-a-dia até vinhos que custam 10, 15 ou 20 mil libras a caixa, ou seja, 1500, 2000 libras por garrafa.

Mas desde que detém o título de master of wine não pára.

É verdade. Quando passei, em 2008, depois de estudar 12, 13 horas por dia durante anos, achei que ia ter mais tempo para ficar com a minha filha, dedicar-me à família, aos amigos, ia ter uma vida mais tranquila, mas piorou (risos). Muitas pessoas ajudaram-me a chegar onde cheguei. Deram-me o tempo delas e eu acho que tenho que dar o meu tempo. Mas encontrar o equilíbrio é difícil, nem sempre consigo. Por outro lado, o que mais gosto do meu trabalho é a liberdade, não há um dia igual ao outro. Estive em Oxford na semana passada e em Manchester, estou aqui no Porto agora e amanhã vou para o Gana.

E quantos vinhos já degustou?

Deixe-me tentar calcular… Pode variar por dia, 50, 100, 150. Já provei até 300 num só dia. Mas eu diria que em média seriam 50 por dia. Então, já provei mais de 50 mil, muito mais de 50 mil vinhos.

Mas há vinhos que ficam.

Sim, claro. Degustam-se 50 vinhos por dia mas há vinhos que nunca mais se esquecem. No ano passado, em São Paulo, bebi um vinho da Madeira de 1780 [H.M.Borges], o mais velho que já experimentei. Eu fiquei… a qualidade era incomum! Estava fresco como se fosse um vinho aberto ontem… (Faz um longo silêncio) Pensar em quantas mãos manusearam este vinho, de 234 anos, os antepassados… Há um sentimento de respeito por quem fez, quem cuidou de um vinho que depois de 234 anos está incomum. É muito forte.

Mas estava-me a contar que não bebe todos os dias…

Não. Tento me organizar para passar a semana sem beber. Degustar todos os vinhos às sextas-feiras e beber com a família e com os amigos nos fins -de-semana.

Mas não dá para escapar à curiosidade das pessoas quando percebem que é um especialista em vinhos...

A única rotina que tenho é fazer exercício físico. Acordo muito cedo e passo uma hora, uma hora e meia no ginásio. Em qualquer lugar do mundo. E, claro, quando estou em Londres, se depois do exercício vou para a sauna, começa sempre a conversa “O que é que você faz?” Claro que quando digo que trabalho com vinho, a conversa começa a girar em torno do vinho. Mas é natural, a maioria das pessoas bebe e gosta de compartilhar as histórias, os gostos, as experiências.

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