Fugas - Vinhos

Dirceu Vianna Júnior, fotografado no Hotel The Yeatman, no Porto

Dirceu Vianna Júnior, fotografado no Hotel The Yeatman, no Porto NFactos/Ricardo Castelo

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“Podem degustar-se 50 vinhos por dia mas há vinhos que nunca mais se esquecem”

Você colecciona histórias , como a do padre em Copacabana...

Sim, já estive uma ou duas vezes na missa de uma igreja em Copacabana. Da última vez, o padre pediu que quem fosse novato ali se apresentasse. Como eu não disse nada, ele veio falar comigo. Tinha 80 anos e quando descobriu que eu trabalhava com vinhos, começou a falar-me do que gostava de beber e bebia bons vinhos, levou-me para uma longa conversa na sacristia. Foi muito simpático.

E o que os vinhos portugueses têm que os outros não têm?

Se fosse para responder sucintamente com uma palavra, eu diria diversidade. A diversidade num território tão pequeno. Além de ter as castas que outros países têm (Cabernet, Chardonnay, Shiraz) tem Encruzado, Arinto, Touriga Franca que outros países não têm.

E tem mais de 400 castas (uvas).

Sim, mas vários países têm essa quantidade, mas não num espaço tão pequeno. E não com a personalidade tão diversa. Vai, por exemplo, a Itália e os vinhos brancos são mais neutros do que o Encruzado, o Arinto, o Alvarinho… Isso explica-se pelas influências do solo, do clima e da própria casta (uvas que têm aspectos diferentes em relação à textura, acidez, ao perfil da fruta).

E como avalia a relação que o brasileiro tem com os vinhos portugueses?

Acho que antes de falar de vinhos tem que se falar da relação dos países Portugal e Brasil. Há uma afinidade histórica. O brasileiro é muito patriota quando fala de futebol ou Fórmula 1 mas na hora de consumir adora o que é estrangeiro.

Mas aí os vinhos argentinos e chilenos têm mais vantagem?

Os vinhos do Chile e da Argentina têm vantagem porque o Mercosul detém preços mais acessíveis. Mas o brasileiro tem muita afinidade com os vinhos de Portugal, Itália, França. Há um outro aspecto. A compra do vinho é uma compra de alto risco se não se conhecer. O Chile, por exemplo, tem várias marcas fortes já conhecidas, como o Concho Y Toro, então o consumidor já tem esta relação. Portugal tem tantos pequenos produtores que os brasileiros não conhecem e é por isso que eventos como este (Vinhos de Portugal no Rio) são importantes. O consumidor tem a hipótese de provar no seu copo o vinho, dizer “gostei” e da próxima vez que for comprar, além da afinidade, vai saber que não é um risco porque ele já provou o vinho de tal pessoa que ele até conheceu.

É diferente fazer uma prova no Brasil ou noutro lugar do mundo?

Do ponto de vista da satisfação é a mesma coisa para mim. Em Oxford, na semana passada, fiz provas para o público em geral, em Manchester foi para jornalistas, no Gana vai ser para 200 funcionários de uma empresa, na Argentina já fiz provas para 400 produtores de vinho. Os níveis de conhecimento de quem assiste são diferentes mas a minha satisfação de compartilhar o conhecimento que tenho é a mesma.

Muda a reacção do público?

Sim, fazer uma prova numa cidade linda como o Rio de Janeiro - aliás um dos itens da minha to do list é morar no Rio pelo menos por um ano - e falar de uma bebida que eu adoro é um privilégio. O público é caloroso, aplaude, quer tirar fotos comigo depois. Em Oxford ninguém vem pedir para tirar fotos no fim (risos). Pensando naquele jovem que chegou de mochila às costas em Heathrow até que não estou nada mal, não acha?

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