Carmen Moraes, uma sommelier, saiu da sua casa em Curitiba, no estado brasileiro do Paraná, e durante três dias viu, ouviu e provou tudo o que pode ver, ouvir e provar no programa do Vinhos de Portugal no Rio, uma mostra organizada pelo PÚBLICO e pelo jornal brasileiro O Globo, com o apoio da Viniportugal, que decorreu no passado fim-de-semana na capital carioca.
Augusto Abreu, engenheiro, não precisou de fazer uma viagem de 843 quilómetros para participar em quase todos os momentos do “Tomar um Copo” que decorreram ao longo dos três dias do evento — ele vive no Rio. Carmen e Augusto são dois convertidos aos prazeres do vinho, dois conhecedores, uma raridade num país onde o consumo de vinho per capita em 2011 rondava os 1,80 litros, o que colocava os brasileiros no lugar 104 no ranking mundial (cada português bebe em média 42,2 litros por ano).
Mas para a maioria esmagadora dos quase dez mil visitantes do espaço do Vinhos de Portugal no Rio, no Jockey Club, a prova de novos vinhos, o contacto com os produtores ou a participação nas provas organizadas foi antes de mais uma experiência que os levava a descobrir novas experiências sensoriais.
Bastava assistir às conversas mantidas nas 65 mesas onde 73 empresas portuguesas apresentaram os seus vinhos, ou dar conta das perguntas que se faziam nas provas organizadas ou nos mais informais “Tomar um Copo” para se dar conta dessa vontade de compreender e de descobrir. Num país sem tradição vitícola, fazer perguntas sobre o que são os taninos, como se avalia a acidez, o que distingue os Vinhos Verdes do Alentejo ou do Dão, como se detecta a individualidade de cada uma das centenas de castas portuguesas ou saber o que se deve comer com cada um dos vinhos foi uma constante. Os lugares para as provas, dirigidas por jornalistas do PÚBLICO, d’ O Globo e por Dirceu Vianna Júnior, o único master of wine de língua portuguesa, permitiram a algumas centenas de participantes conhecer os Vinhos Verdes, os moscatéis de Setúbal ou fazer uma viagem pelo vinho do Porto que culminou com a prova de um Real Companhia Velha de 1908 que depressa se tornou num ícone do evento. Da mesma forma, as várias sessões do programa “Tomar um Copo” esgotaram-se muito rapidamente.
Os que não puderam encontrar uma vaga nas provas organizadas, tiveram a oportunidade de experimentar centenas de vinhos de todas as regiões no espaço do “mercado”. “As pessoas são muito curiosas, querem saber o que fazemos e quando gostam, querem comprar”, notou Domingos Alves de Sousa, dono de marcas emblemáticas do Douro como o Quinta da Gaivosa ou o Abandonado, que tem merecido especial atenção da crítica brasileira.
Para poderem concretizar as suas experiências, os visitantes recebiam um copo com um chip integrado que memorizava os vinhos provados e produzia uma lista que depois era enviada para o seu mail pessoal — uma tecnologia desenvolvida em Portugal pela equipa da Adegga, de André Ribeirinho. Para lá da sua utilidade, este recurso servia também para sublinhar a dimensão de uma nova imagem de Portugal e dos seus vinhos. “É fundamental passar a imagem de que o vinho português consegue conservar as suas tradições sem deixar de ser um vinho que exprime modernidade”, notava Jorge Monteiro, presidente da Viniportugal.