Fugas - Vinhos

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Os vinhos Barbeito estão na moda e a "culpa” é de Ricardo Diogo

No início da década de 70, a empresa decidiu envolver-se também na venda de vinho Madeira a granel. Em 1976, com o negócio a crescer, Mário Vasconcelos chamou a filha para junto de si. Manuela, que tinha sido preparada para ser uma dedicada dona de casa, era fluente em línguas e ao fim de pouco tempo começou a assumir a representação da empresa nas principais feiras de vinho do mundo. “Pouca gente sabe, mas a minha mãe foi uma das primeiras mulheres do vinho em Portugal”, enfatiza Ricardo.

Manuela gostava muito de vinho Madeira. “O seu lugar de trabalho era a cozinha. Tinha lá sempre vinhos velhos, que comprava a pessoas amigas e que ia guardando em garrafões. Filtrava os vinhos com um paninho de cambraia. Eu lembro-me de ter uns 12 ou 14 anos e de a ajudar a tratar dos vinhos. ‘Ricardinho, tem cuidado, vê lá’, dizia-me. A minha mãe tinha sete decanters na sala de jantar com Madeira e todas os dias escolhia um para beber a seguir ao jantar. Ela bebia Terrantez de 1795 quando lhe apetecia. Ela é que aproveitava a vida”, recorda Ricardo.

Em 1985, com a morte de Mário de Vasconcelos, Manuela assumiu a gestão da empresa, que já começava a ficar em apuros, devido à feroz concorrência entre os exportadores de vinho a granel. Na altura, a empresa vendia vinho a granel para vários países, entre os quais o Japão, onde era distribuído pela família Kinoshita desde 1967. A situação na Barbeito não parava de piorar. Os stocks de vinhos mais antigos estavam exauridos e a qualidade dos vinhos mais novos era cada vez pior. Em 1989, os Kinoshita viajaram até à Madeira para perceber o que se passava. Os laços entre as duas famílias eram muito fortes. A dada altura, numa reunião, Manuela Vasconcelos virou-se para eles e atirou: “Vocês não querem ser nossos sócios?”. Apanhados de surpresa, os Kinoshita terão respondido algo do género: “Porque não?!”. “Na altura tínhamos uma divida de 90 mil contos e pagávamos juros de 25%. A gente ia falir, não tenho vergonha de dizer isso”, recorda Ricardo.

As negociações começaram e Manuela Vasconcelos pediu ao filho, que falava e escrevia bem Inglês, para fazer de interlocutor com os Kinoshita e passar-lhes toda a informação sobre a empresa. Em 1991, as duas famílias concretizaram a joint-venture, ficando cada uma com 50 por cento da capital da Barbeito. Ricardo julgava que o seu trabalho tinha terminado e que poderia voltar a fazer o que mais gostava, que era dar aulas e continuar a tomar conta da garrafeira que a família possuía no centro do Funchal (destruída, juntamente com um museu e uma biblioteca da família com mais de 25 mil livros, nas cheias de 20 de Fevereiro de 2010). Mas antes de assinar o acordo, “o velho Kinoshita foi ver o nome dos gerentes propostos pela nossa parte e reparou que eram os da minha mãe e do meu irmão mais velho. Virou-se para mim e disse: ‘Você não está aqui?’. Eu disse que não, que o projecto estava feito e que ia continuar a dar aulas. ‘Não senhor. Tu vais ficar, por que se não ficares vamos ter que repensar o negócio’”, relembra Ricardo. E Ricardo ficou, juntamente com a mãe e o irmão mais velho. Em vez de dois, cada família nomeou três gerentes.

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