“Os japoneses pagaram a parte deles e a minha mãe não levou um euro para casa. Deixou tudo na empresa. A primeira decisão que tomámos foi deixar de vender vinho a granel e passar a engarrafar todo o vinho, mesmo o de três anos. Em cinco anos pagámos as dívidas”, continua Ricardo.
No início, a sua função principal era tratar dos inventários. A enologia da Barbeito era assegurada pelo “senhor João”, um homem que usava sangue de vitela e barro espanhol para clarificar os vinhos. Alguns lotes começaram a apresentar problemas. Turvavam e ganhavam depósito. Uma das primeiras missões de Ricardo Diogo foi ir a Londres garantir a um grande distribuidor que o problema não se repetiria. Mas, três ou quatro meses depois, uma nova remessa de vinho para o mesmo importador voltou a dar problemas. Envergonhado, o filho fez ver à mãe que era necessário fazer alguma coisa. E a solução foi Ricardo ir assumindo os vinhos, apesar de não ter qualquer formação enológica.
De professor a enólogo
Ricardo teve que aprender tudo depressa. Começou por ter algumas aulas com João Belo, técnico no Instituto do Vinho Madeira. A seguir João Belo passou a fazer um part-time depois da hora na Barbeito, o que acelerou a componente prática. Na vindima de 1992, quando já liderava a empresa (a mãe começou a adoecer e a ir cada vez menos à adega), Ricardo fez algumas “experienciazinhas” e pôs pela primeira vez “as mãos no vinho”. A partir daí “foi sempre a aprender, a experimentar e a inventar”, diz.
Nas duas décadas seguintes, o grande trabalho da Barbeito foi recuperar stocks, reconquistar a credibilidade dos clientes e fazer vinhos cada vez melhores, a partir de uvas compradas a viticultores locais (a empresa compra uvas a 130 viticultores e só explora, em regime de arrendamento, uma parcela de três mil metros de Verdelho). Em 2008, foi construída uma adega nova em Câmara de Lobos, com um armazém de envelhecimento moderno onde passou a estagiar a maioria dos vinhos que possuía espalhados por cinco armazéns; e logo a seguir Ricardo Diogo encomendou à designer austríaca Cordula Alessandri a renovação da imagem dos rótulos, tornando-os mais modernos e irreverentes.
Nos últimos anos, recorrendo a vinhos velhos da família e a outros que famílias amigas lhe depositaram, Ricardo Diogo tem vindo a lançar vários Madeira extraordinários, a começar pelo riquíssimo Mãe Manuela Malvasia 40 anos, um vinho que foi refrescado com 7% de um Malvasia de 1880. Depois de muito tempo quase só dedicada ao vinho a granel, a Barbeito passou a ter no seu portefólio frasqueiras (vinhos datados com indicação de uma casta e um mínimo de 20 anos de envelhecimento contínuo em madeira), single harvest e outros vinhos premium. Ao mesmo tempo, começou a fazer séries especiais de Madeira para a Bélgica, Áustria, Inglaterra e Estados Unidos. Neste país, fez sucesso com uma série de vinhos inspirados em personalidades americanas ligadas à história do Madeira. “O vinho Madeira voltou à mesa dos restaurantes americanos graças à Barbeito”, afirma, sem falsas modéstias.