Fugas - Vinhos

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Os vinhos Barbeito estão na moda e a "culpa” é de Ricardo Diogo

Ricardo Diogo já começou também a engarrafar single casks dos primeiros vinhos que fez na década de 90. Pequenas produções dos melhores vinhos envelhecidos segundo o sistema de canteiro (os vinhos mais novos são armazenados em pipas velhas nos andares superiores e mais quentes dos armazéns, para acelerar a sua oxidação, descendo progressivamente de andar à medida que vão envelhecendo). Uma das últimas novidades foi o lançamento, com a insígnia Ribeiro Real, de uma série de vinhos espectaculares das principais castas da ilha (Tinta Negra Mole, Malvasia, Boal, Verdelho, Terrantez e Sercial), enriquecidos com vinhos muito velhos de uma conhecida família madeirense, os Favília Vieira.

Aos 51 anos, Ricardo Diogo tornou-se no criador de vinhos mais dinâmico da Madeira. Sem medo de correr riscos, começou a fazer Madeira biológico, passou a usar lagares robóticos na vinificação de algumas castas e lançou o primeiro Madeira de Tinta Negra Mole com o nome da casta no rótulo, o Ribeiro Real 1996. A Tinta Negra Mole é a principal casta da ilha, mas a sua reputação foi sempre muito baixa. “O que eu mais gosto nesta variedade de uva é o facto de ninguém gostar dela”, respondeu um dia.

É esta a sua filosofia: inovar, ir contra a corrente, testar novas fórmulas. O próximo objectivo é fazer um branco seco de Verdelho com uvas da costa norte da ilha, mais ácidas. A família Kinoshita dá-lhe carta-branca. Os negócios correm bem. O stock é de 1,2 milhões de litros e, dos cerca de 180 mil litros de Madeira que a Barbeito vende anualmente, cerca de 50 mil são vinhos premium, com ou cinco ou mais anos. “Se eu dissesse para começarmos todos a dançar em cima da mesa, eles alinhavam [graceja]. Temos uma relação espectacular”, remata Ricardo Diogo.

 

Três vinhos exemplares

Barbeito Mãe Manuela Malvasia 40 anos
Bouquet rico e complexo, com muitas notas iodadas, fruta cítrica, mel e especiarias. Na boca, mostra grande untuosidade e profundidade. Sendo doce, não cansa nem um bocadinho, graças a uma acidez volátil alta mas tolerável que lha dá uma grande vivacidade e amplitude. Um Madeira extraordinário (450 euros).

Barbeito Ribeiro Real Tinta Negra 1996
Foi o primeiro Madeira a ostentar o nome da casta Tinta Negra Mole no rótulo. Por ser uma casta tinta, a cor é um pouco mais escura do que os Madeira de variedades de casca branca. Foi enriquecido com um pouco de vinho de Tinta Negra do século XIX. No nariz, ressuma a noz e a avelã. Entra sedoso e fino, crescendo depois de forma magnífica, revelando sabores quentes (tabaco, especiarias) e uma frescura deliciosa. Uma bela surpresa (156 euros).

Barbeito Sercial Frasqueira 1992
Ricardo Diogo é um apaixonado da casta Sercial. Este ano anda eufórico porque conseguiu produzir 27 mil litros de vinho desta casta, a mais ácida de todas as variedades utilizadas no Madeira (é conhecida como a “quebra-dentes”). O 1992 contou já com a sua participação. No bouquet, sobressaem notas químicas de madeira e frutos secos. No ataque, é suave e contido, mas depois mostra outra amplitude e raça, deixando vir ao de cima o seu lado mais salino. O final é seco e fresquíssimo (45 euros, garrafas de 50 cl). 

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