Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
  • António Rocha, o actual
“senhor Bussaco”, tem a
responsabilidade de gerir
uma garrafeira com mais
de 200 mil exemplares
e de manter o perfil de
uma casa emblemática
do vinho português
    António Rocha, o actual “senhor Bussaco”, tem a responsabilidade de gerir uma garrafeira com mais de 200 mil exemplares e de manter o perfil de uma casa emblemática do vinho português Nelson Garrido
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Bussaco: Viagem pela história dos mais lendários vinhos secos portugueses

Sob a gestão de António Rocha, os vinhos saíram da clausura da mata nacional. Os Bussaco fazem parte dos Baga Friends e o hotel cedeu a exclusividade da venda do vinho no mercado nacional a Dirk Niepoort. Para certos mercados, o grupo Alexandre Almeida exporta directamente. Embora mais fáceis de encontrar, os vinhos do Bussaco mantêm o encanto próprio dos objectos raros e cobiçados. Mesmo as colheitas mais novas- 2013 nos brancos e 2011 nos tintos- são caras. Cada garrafa custa mais de 30 euros. O ainda novíssimo Bussaco Vinha da Mata 2010, por exemplo, custa 70 euros. Este é um vinho que foge um pouco da filosofia Bussaco, porque tem origem no único vinhedo do grupo, situado na Bairrada, e porque leva apenas Baga. Até hoje, só foram lançados o 2001 e o 2010, ambos magníficos. Nos tintos e nos brancos clássicos, o legado de Martina e António Rocha é mais vasto e a generalidade da crítica nacional e internacional tem recebido bem as diferentes colheitas, em especial os fantásticos brancos de 2001 e 2003.

Apesar das mudanças, o “perfil Bussaco” tem sido mantido. É um estilo de vinho que se repete colheita após colheita e que, no essencial, não deriva nem de uma vinha em concreto (a excepção é o tinto Vinha da Mata), nem de um enólogo, nem sequer de uma adega ou de uma forma tradicional de vinificação, mas sim da ideia simples de juntar num mesmo vinho o melhor do Dão (elegância) e da Bairrada (frescura, taninos) e de dar-lhe o tempo de cave necessário. Acima de tudo, é a circunstância de terem origem em duas regiões diferentes que distingue os vinhos do Bussaco. Foi sempre esse o princípio, embora se saiba que em algumas colheitas essa regra foi quebrada (os vinhos foram feitos apenas com uvas da Bairrada).

Por trás dos vinhos do Bussaco não existe a dimensão romântica da vinha ou da adega. Tudo se resume à garrafeira e à história que se esconde por trás de cada garrafa. No Bussaco, duram quase tanto os brancos como os tintos. Brancos das colheitas de 1967 e 1978, por exemplo, batem-se com os grandes do mundo. São vinhos muito salinos, enxutos e com grande acidez. Em geral, os brancos do Bussaco impressionam mais do que os tintos. Mas tintos das colheitas de 1960 e 1964, só para citarmos dois exemplos, conseguem deixar-nos sem palavras perante a sua profundidade, pureza e frescor químico. Uns e outros são vinhos que não podem ser bebidos com sofreguidão. É preciso deixá-los arejar e esperar que se reequilibrem.

Quando chegam ao ponto certo, são vinhos capazes de emocionar o mais exigente enófilo. Sobretudo se forem bebidos no ambiente religioso do Buçaco e com a mesma paciência sábia dos monges Carmelitas Descalços.

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