Fugas - Vinhos

NELSON GARRIDO

O Natal e os vinhos fortificados

Por Rui Falcão

É seguramente o momento perfeito para abrir e beber algumas garrafas dos quatro grandes vinhos fortificados que fazem a glória de Portugal, Vinho do Porto, Madeira, Moscatel de Setúbal e o eternamente desconhecido Carcavelos.

O Natal está à porta e com ele avizinham-se as naturais e recorrentes preocupações com a ceia de 24 e o almoço de dia 25. Muito provavelmente a ementa não será muito diferente do costumeiro, seja ela consentânea com a tradição regional ou com a tradição pessoal de cada lar.

Para o bem e para o mal, pouco se inova e pouco se muda nos hábitos alimentares familiares desta época festiva. Mas se a preferência gastronómica despertará poucas dúvidas para a maioria dos portugueses, o mesmo não se passa com o acompanhamento vínico, sempre sujeito a hesitações e interrogações existenciais.

Para além da eterna incerteza sobre qual o melhor estilo de vinho para acompanhar o bacalhau, tinto ou branco, as indecisões recaem igualmente sobre o tipo de vinho, a região, o preço e a quantidade. Quem recebe amigos ou familiares sente sempre uma boa dose angústia perante a sempre difícil decisão de abrir a garrafa do tal vinho notável que foi guardado propositadamente para ser desfrutado numa data especial.

No meio de tantos familiares e amigos convidados há sempre quem revele pouca sensibilidade ou pouco interesse pelo vinho, provavelmente a maioria, convivas que dificilmente poderão valorizar ou apreciar a garrafa que foi guardada com tanto carinho durante tanto tempo. Por isso, e salvo a coincidência de ter uma família ou grupo de amigos especialmente motivados pelo vinho, o Natal raramente é a ocasião ideal para abrir vinhos únicos ou vinhos mais extremados que se afastam dos gostos mais fáceis e mais consensuais.

Mas é seguramente o momento perfeito para abrir e beber algumas garrafas dos quatro grandes vinhos fortificados que fazem a glória de Portugal, Vinho do Porto, Madeira, Moscatel de Setúbal e o eternamente desconhecido Carcavelos. Claro que este último, o Carcavelos, não será fácil de encontrar para quem vive fora da região de Lisboa e não tem oportunidade de visitar a loja do produtor em Oeiras, no Palácio do Marquês de Pombal. Mas os restantes têm distribuição relativamente alargada e estão, por isso, facilmente disponíveis para quem quiser mergulhar nas alegrias de alguns dos melhores vinhos do mundo.

Por serem maioritariamente doces, os vinhos fortificados costumam ser relegados para o final da refeição, para aqueles momentos em que o paladar já está cansado e quando a fadiga própria de uma refeição demorada já se instalou. Por isso, raramente são apreciados na plenitude e raramente lhes damos condições para poderem brilhar. Condições que, infelizmente, costumam ser potenciadas pela escolha de copos nada adequados à função, copos dedal demasiado pequenos que não deixam espaço para os vinhos mostrarem as suas capacidades únicas.

Porém, nem todos os vinhos fortificados são doces, podendo ser aproveitados para o início da refeição ou para os momentos que antecedem o repasto. Basta pensar em alguns dos vinhos do Porto brancos secos, ainda uma raridade, ou mais facilmente nos vinhos da Madeira secos, sobretudo os Sercial, que, pela sua acidez sibilina e secura extrema, ajudam a despertar as papilas gustativas para a refeição que se avizinha.

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