Após a morte de Jaime de Olazabal, em 1982, uma nova ronda de negociações reduz o número de proprietários de 22 para sete. Francisco entra na onda e eleva a sua participação de 6.5% para 38%. O sonho de juventude começa a ganhar consistência. Mas, o seu centro de interesses continuava a gravitar em torno da Casa Ferreira. Nos anos 80, a empresa estava em boa forma e começa a ser objecto de cobiça de multinacionais como a Seagram. Dividida por 140 herdeiros de Dona Antónia, a Ferreirinha estava vulnerável a assaltos hostis e a pulverização de accionistas ameaçava paralisá-la. “Não havia ninguém com muita vontade de andar para a frente”, recorda Francisco Olazabal. Artur Santos Silva, o homem-forte do BPI, tenta organizar um MBO (uma compra da empresa por uma parte dos sócios), mas “havia pela parte da família uma vontade de vender e de encaixar dinheiro”. Em 1987 a empresa é vendida à Sogrape.
Francisco Olazabal continua na administração mas, em 1994, há uma possibilidade de negócio que lhe muda o curso da vida. Os seus seis primos com quem dividia o Vale Meão querem vender as suas partes. Olazabal vê finalmente aberta a porta para se tornar dono da obra da sua trisavó. Com o dinheiro que recebe da venda da Casa Ferreirinha, avança. “Dei tudo o que tinha. Como se diz no poker, entreguei a cave”, recorda. Nesse ano, a quinta passa integralmente para as suas mãos. O seu filho Francisco (Xito) Olazabal estava a terminar o seu curso de enologia em Vila Real. O projecto para uma segunda vida do Vale Meão estava em curso.
Para o concretizar, Francisco tinha de tomar uma opção difícil. A de trocar a administração da Ferreira pela incerteza de um projecto no Meão. “Ia fazer 60 anos e pensei: se não der este passo agora, nunca mais dou”, recorda. Foi a decisão mais difícil da sua vida? “Não sei, mas foi certamente a mais excitante”. Xito tinha começado a vinificar os vinhos da Quinta do Vallado, na posse de um ramo da família Ferreira, e torna-se o principal entusiasta do Vale Meão. “Disse-me que tínhamos todas as condições para ter sucesso. Disse-me que estava até pronto a vir para cá viver”, recorda o pai. Quase um século depois da breve passagem de Ramon Olazabal pela quinta, um descendente de Dona Antónia mostrava vontade de viver no Meão com a família. Se havia dúvidas ou incertezas, Xito demoliu-as uma a uma. “Ele nunca teve dúvidas. Dizia-me para me não preocupar. Nunca tremelicou”, recorda Francisco Olazabal.
Decisão tomada, havia arestas para limar. A mais importante era a de encerrar o acordo de abastecimento de uvas à Ferreira, para vinho do Porto e, fundamentalmente, para os Barca Velha. A Sogrape já tinha antecipado essa possibilidade quando adquiriu, poucos anos antes, a Quinta da Leda. Uma nova adega estava projectada para esta quinta em 1999. Um ano antes, Francisco Olazabal sente que a sua missão na Casa Ferreirinha tinha acabado. Sai e dedica-se de corpo e alma ao Vale Meão.
Hoje, permite-se dizer que fora capaz de antecipar o sucesso da sua opção, por acreditar desde sempre que “tínhamos todos os trunfos na mão”. Mas antes da estreia do primeiro vinho, de 1999, admite que viveu tempos de “ansiedade”. Chegava a levantar-se de noite e ir provar os vinhos com medo que estivessem estragados. “Aquilo tinha de correr bem. Se começássemos mal, a coisa nunca mais se resolveria”, diz. Os investimentos feitos impediam-no de optar por um estilo como o do Barca Velha por “não termos condições para esperar seis ou sete anos pelo momento da venda”. O que Xito e o pai tinham congeminado era um tinto opulento, com aromas e sabores modernos mas ancorados nas características únicas do Vale Meão. Quando os primeiros vinhos chegaram ao mercado, as críticas foram entusiásticas. A Revista de Vinhos deu-lhe 19 pontos (em 20) e considerou-o o “melhor vinho lançado em 2001”; A Wine Spectator conferiu-lhe 90 pontos em 100. Nos anos seguintes, as pontuações foram subindo. Em 2014, o Vale Meão chegou ao quarto lugar no top 100 mundial da Wine Spectator.