A primeira vinha, junto ao lugar da Barca Velha, um lugar de passagem do rio, começa a ser plantada em 1888. As casas para os donos e para os caseiros avançam em simultâneo. As adegas avançam e ficariam prontas em 1895. Só para estes edifícios foram necessárias 6000 toneladas de pedra, que tiveram de ser transportadas de pedreiras localizadas a mais de 20 quilómetros de distância. Para as trazer até à obra, os carros de bois que as carregavam tiveram de percorrer 240 mil quilómetros. Milhares de trabalhadores vieram de toda a região. A maioria, porém, viajou desse a Galiza. O Vale Meão tornou-se uma realidade e passou a fazer parte da elite das quintas de Dona Antónia, onde se incluíam preciosidades como o Vesúvio, Arnozelo ou Vargellas.
Por pouco tempo. Em 1896 Dona Antónia morre. A quinta entra então no seu primeiro capítulo de fragmentação, por força das heranças. Se a empresa comercial, a Casa Ferreira, se transforma numa sociedade por quotas, as propriedades são dispersas. Na primeira partilha, o Vale Meão fica na posse de uma das filhas de Dona Antónia, Maria da Assunção, que casara com o conde de Azambuja (filho do Duque de Loulé), um casal da alta nobreza lisboeta pouco dado a amores por lugares com pó e calor tórrido. Quando chega a vez das partilhas entre os netos, a quinta é já dividida por três das filhas de Maria Assunção, em 1905. Depois de um acordo negocial, a posse da propriedade ficaria apenas nas mãos de Maria Tereza e de Maria Luiza. Até 1973, estes dois ramos de herdeiros da Ferreirinha tomarão conta dos destinos do Vale Meão.
Maria Luiza e o seu marido, o basco Ramon de Olazabal y Eulate, conde de Arbelaiz, ainda vivem cerca de dois anos no Vale Meão, em 1919. Mas seria necessário esperar quase um século para que um descendente de Dona Antónia repetisse a sua paixão pelo Douro e pelas vinhas e montasse lá o seu quartel-general.
Em 1921, Ramon vai para o Porto, onde administrará a Casa Ferreira até ao seu falecimento e o seu filho, Jaime, pai de Francisco Olazabal, sucede-lhe em 1950. Durante este longo período de estagnação do comércio de vinho do Porto, a quinta torna-se uma realidade distante para as prioridades da família. “Nunca deu prejuízo”, recorda Francisco Olazabal, mas o seu potencial produtivo e as suas infra-estruturas foram definhando lentamente. Desde 1952 que as suas uvas estavam na base do lote do famoso Barca Velha, mas nem esse estímulo era capaz de inverter a estagnação em que caíra – Francisco Olazabal afirma no seu livro que o vinho não se chamou Vale Meão porque o seu pai se opôs, alegando que parte das uvas que o originaram não provinha da quinta.
A segunda vida do Meão
A recuperação do vinho do Porto depois de 1963 cria condições para que, uma década mais tarde, se investisse pela primeira vez numa nova plantação de oito hectares. Mas a quarta geração de herdeiros tinha multiplicado os proprietários. Eram agora dezenas. A fragmentação reduz os proveitos e dificulta a gestão. Muitos querem vender. Em 1974, o ramo Olazabal adquire a totalidade da quinta aos seus primos Sequeira. A construção da barragem da Valeira inunda parte da quinta e com a indemnização recebida, 1500 contos, a modernização da propriedade ganha novo impulso. Francisco Olazabal exige que este valor seja reinvestido em novas plantações e pede um conselho ao tio José António Rosas (administrador da Ramos-Pinto, criador da quinta de Ervamoira e pai de José Rosas, o actual líder da empresa) sobre que castas plantar. A resposta, em 1975, antecipa o futuro do vinhedo duriense: Touriga Nacional.