Como habitualmente, as escolhas da FUGAS tiveram como baliza dez vinhos situados numa gama de preço entre os sete e os 13 euros. É discutível que se possa comparar um vinho situado na faixa de preço mais baixa do intervalo com outro situado no limiar dos 13 euros – há aqui quase uma diferença de 100%. Mas, entre os 7.5 euros e os 12.5 euros estão os vinhos que, para uma boa parte dos consumidores, se situam no segmento médio-alto. Nem são vinhos correntes, nem vinhos galácticos.
Depois, uma vez que os resultados desta prova vão ser divulgados num suplemento especial que o jornal brasileiro O Globo vai dedicar aos vinhos nacionais, no âmbito do programa Vinhos de Portugal no Rio (ver página 48), todas as propostas para a prova tinham de existir no mercado brasileiro. Dentro desse intervalo, as escolhas foram feitas com a ajuda preciosa de Jesus Caridad e de Hélder Almeida, os especialistas da área do vinho do El Corte Inglés. Todos os vinhos em prova estão, por isso, listados no catálogo dos supermercados do El Corte Inglés ou no seu Clube do Gourmet.
Para a prova foram convocados seis dos oito elementos do painel habitual da Fugas. Beatriz Machado, mestre em ciências da viticultura e enologia da Universidade da Califórnia e directora do serviço de vinhos do hotel The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, Lígia Santos, uma engenheira que trabalha na área da gastronomia (foi a primeira vencedora do concurso masterchef em Portugal) e gere um estabelecimento de turismo rural na zona dos Arcos de Valdevez (as Casas da Li), o jornalista da RTP Luís Costa, Joe Álvares Ribeiro, administrador do grupo de vinhos Symington, Ivone Ribeiro, dona de uma loja de vinhos em Matosinhos, a Garage Wines e Pedro Garcias, jornalista do PÚBLICO. Por impossibilidade pessoal, estiveram ausentes o enólogo Álvaro van Zeller e o jornalista do PÚBLICO José Augusto Moreira.
Como é tradição, a prova desenrolou-se em dois momentos: de manhã, sem comida, e depois ao almoço, momento em que os vinhos foram sujeitos ao teste da vocação gastronómica. Como sempre acontece, houve vinhos que saíram muito bem no primeiro momento e perderam fulgor à mesa. Como aconteceu o contrário.
O Quinta da Covela Edição Nacional, um vinho da região dos vinhos Verdes que nasce nas margens do rio Douro, onde a casta Avesso conhece o seu local de eleição, foi um dos casos em que o vinho brilhou à mesa. Com o Quinta do Cume Reserva de 2014, um branco dos planaltos do Douro, aconteceu exactamente o contrário. Mas houve também alguns vinhos que mostraram o mesmo valor quer em momentos de convivialidade, quer na hora de se baterem com comida. O caso mais emblemático deste eclectismo aconteceu com o Duas Quintas de 2014, um branco duriense da casa Ramos-Pinto. Mas também o vencedor foi capaz de passar nos dois momentos com o mesmo grau de aprovação.
Para o teste da comida, o restaurante da Casas da Li (orientado pela membro do júri Lígia Santos) preparou um menu capaz de se ajustar à diversidade dos vinhos em questão – frutados, com e sem madeira, jovens ou já com um par de anos de garrafa, etc. Foram servidas espetadinhas mediterrânicas com vinagreta de mostarda, folhadinhos de camarão e salva, uma salada de salmão fumado com funcho e laranja, filetes de robalo com puré de batata-doce e presunto estaladiço, umas aplaudidíssimas lascas de Bacalhau confitado com puré de grão, crocante de broa e compota de três pimentos e, para rematar os pratos principais, um desafio: um tornedó de lombelo com barriga fumada e gnochis com molho de mostarda à antiga. O que foi suficiente para constatar que muitos dos brancos em prova (que, note-se, continuava a ser cega nesta fase do almoço) ficavam muito bem com um prato de carne.