O potencial das vinhas velhas acabou por isso por servir como inspiração para a crítica das opções tomadas no Douro depois dos anos 70/80 do século XX. “A mecanização mudou os princípios da viticultura”, diz David e criou uma oposição na região entre “as vinhas velhas e as vinhas novas” que se confirma nas marcas da paisagem. Para David, “o que aconteceu nos últimos 30 ou 40 anos foi um descalabro”. Na armação do terreno, na condução da vinha ou na escolha das castas. Quando nas vinhas velhas coexistem por vezes dezenas de variedades, nas vinhas modernas a selecção restringiu-se a três ou quatro castas e a um certo predomínio da Touriga Nacional – o que muitos viticultores designam depreciativamente por “touriguização”, um fenómeno que se expandiu para outras regiões do país.
Os trabalhos de David Guimaraens e de António Magalhães no sentido de recuperar o potencial das vinhas velhas tinham como condição prévia a manutenção de elevadas densidades de plantas por hectare sem que o recurso à mecanização fosse impedido. Foi assim que nasceu a “Segunda Geração do Socalco Pós-Filoxera”, que está na base das restruturações das vinhas realizadas pela empresa – a área de vinha do grupo ultrapassa os 500 hectares. Para manter a identidade genética de Vargellas, as vinhas são reconstruidas ou replantadas através do recurso a plantas já existentes nas vinhas velhas. E para fechar o círculo, a equipa técnica da empresa replica no terreno as castas escolhidas há décadas por Frank e Dick Yeatman.
David Guimarães, divide-as entre as “castas principais” que valem entre 60 e 80% do lote final (a Touriga Francesa, “a casta mais consistente que nós temos”, a Touriga Nacional, a Tinta Roriz e a Tinta Barroca), as “castas diferenciadoras”, que representam entre 20 e 30% do lote (Tinta Amarela, Tinto Cão, Tinta da Barca, que é a ex-libris da quinta de Vargellas, e a Tinta Francisca). Depois, há ainda um conjunto de “castas residuais” que apenas afinam o lote. Inclui-se aqui o Rufete, a “alentejana” Alicante Bouschet, que era presença habitual nas vinhas pós-filoxéricas – vale perto de 3% das vinhas velhas da quinta da Roeda-, ou a mais incompreendida Mourisco. “Hoje, quando planto uma vinha uso sempre oito ou nove castas”, sublinha David Guimaraens.
O que essa diversidade existente nas vinhas velhas exprime é, na opinião do enólogo, a primazia da elegância e a fineza em detrimento de uma certa “brutalidade” que alguns vintage exibem – pelo menos na sua fase inicial, embora, na generalidade esta categoria de vinhos seja hoje muito mais polida do que há apenas 20 ou 30 anos. Mas, entre todos os vintage que surgiram nos últimos anos, os Vinha Velha (ou o Stone Terraces da Graham’s, como se disse) apresentam, de facto, um perfil muito mais delicado e elegante do que a maioria dos seus pares.
Sete vinhos para nota máxima
Vargellas Vinha Velha 1995
Um ano com boas condições para a floração. O Verão começou fresco e lá para Agosto as temperaturas subiram. A vindima fez-se em boas condições. No aroma este vinho revela notas de chá verde, sensações remotas de fruta e toque de garrafa. É de todos o menos límpido no nariz. Taninos muito finos e uma magnífica tensão no final de prova.