Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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A vez de regressar a Portugal

A geringonça na vinha

É, no entanto, na condução da vinha que a Quinta de Lourosa mais surpreende. Não admira. A tese de doutoramento de Rogério de Castro foi dedicada ao estudo da condução de macieiras jovens, mas cedo orientou os seus interesses para a vinha. Foi docente, presidiu a sessões de congressos científicos, fez visitas guiadas, orientou dezenas de mestrados e doutoramentos em várias universidades, publicou variadíssimos livros e estudos sobre a videira e a vinha e ainda hoje é consultor de empresas, entre as quais a Globalwine, cujo projecto de viticultura no nordeste brasileiro acompanha desde o início. No meio de toda esta azáfama, Rogério de Castro continua a ser o cérebro por detrás da operação agrícola da quinta, cabendo à sua filha Joana a gestão da parte de enologia, administrativa e comercial. Porque é entre os bardos das videiras, mexendo nas folhas e trocando os arames que as conduzem que ele se sente bem. Gesticula, descreve os comportamentos das plantas como se tivessem vontade própria, descreve o processo que o levou a optar por uma forma de viticultura e não por outra e, no final, reconhece que “temos de ser humildes com a natureza”. Uma vez tinha serrado videiras doentes para avançar com uma replantação e no compasso de espera deu conta que as plantas estavam a renascer já sem qualquer doença.

Olhando para os bardos das vinhas de Rogério de Castro fica-se com uma ideia de uma geringonça. Vários arames estendem-se entre os postes de madeira, como em qualquer vinha, mas aqui há diferenças. Os arames são amovíveis. Podem ficar mais baixos ou mais altos em função do desenvolvimento das plantas ou das operações de cultivo – poda, monda, vindima, etc. O objectivo é garantir que o ecossistema das videiras seja o mais saudável possível, que a capacidade de receberem luz seja maior e que os custos de trabalho sejam o mais baixos possível. Na Vinha do Avô as videiras de Arinto são conduzidas segundo o sistema Lys, que o próprio Rogério de Castro desenvolveu, mas um pouco mais abaixo há uma vinha de Loureiro com a parte foliar bem mais alta do que é normal – uma vinha pensada para poder acolher rebanhos de ovelhas ou animais de capoeira, que na terminologia científica é designada por R5C2.

Esta intenção de fazer regressar animais às vinhas obedece à convicção que Rogério de Castro tem sobre a necessidade de a agricultura regressar a práticas mais sustentáveis e amigas do ambiente. “O meu pai não sabia o que era a produção biológica ou a viticultura biodinâmica, mas era assim que ele fazia agricultura”, lembra o académico. O uso de tojos e de excrementos animais era uma prática antiga que, na medida do possível, pode estar de regresso. Até lá, há pequenos detalhes em que a propriedade mostra estar a par das tendências contemporâneas da agricultura amiga do ambiente. O espaço livre entre os bardos é capinado alternadamente, o que permite que haja coberto vegetal suficientemente desenvolvido para acolher insectos – “aqui há bichinhos e nós precisamos deles”, diz Rogério de Castro. Joana, lembra que havendo erva alta, as cigarrinhas verdes não atacam a vinha.

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