Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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A vez de regressar a Portugal

Com as diferentes parcelas estendendo-se entre o cenário de povoamento disperso típico da zona entre Lousada e Felgueiras, a Quinta de Lourosa é um puzzle não só de experiências ou de formas originais de viticultura. É também um puzzle de castas. Nas zonas mais altas há Arinto e Alvarinho, mas também Merlot ou Touriga Nacional. “Planto qualquer coisa nova todos os anos”, diz Rogério de Castro. Uma das suas últimas experiências faz-se com a Encruzado, uma variedade branca do Dão com crescente protagonismo. Mas há também Verdelho, Gouveio, Moscatel ou Avesso.
Nem toda a produção da quinta é usada na comercialização das marcas da casa. Pelo contrário, cerca de metade da vindima é vendida a comerciantes ou adegas cooperativas da região. O resto da matéria-prima é vinificada na adega frugal, mas suficiente, instalada no coração da propriedade Ao todo, as marcas da Quinta de Lourosa vendem 150 mil garrafas.

A maior parte destes vinhos são exportados. “Mais de 95% vão para fora, principalmente para a Alemanha mas também para países como a Dinamarca ou a Polónia”, diz Joana de Castro. Em regra, os vinhos com a assinatura de Joana têm teores de açúcar residual muito baixos e tendem a fugir de uma certa tendência da região dos Vinhos Verdes para usar leveduras que dão origem a vinhos com forte marca de fruta tropical. “É curioso que mesmo na Polónia, onde se diz que os consumidores gostam de vinhos mais doces, as nossas marcas de entrada de gama têm boa aceitação por serem como são”, diz Joana de Castro.

Com uma estratégia que passa pela combinação da venda de uvas com a produção de marcas de terceiros e, principalmente, de vinhos com marca própria, a Quinta de Lourosa é também uma unidade de turismo rural onde é possível experimentar o quotidiano da vida no campo. Para chegar aqui, Rogério de Castro fez da propriedade uma aposta pessoal que dura há mais de 30 anos. O núcleo original da propriedade era posse do seu pai, um agricultor de Gondomar. O professor habituou-se a ir à quinta desde tenra idade – “O único dia em que podia faltar à escola era quando visitava a quinta com o meu pai”, recorda – e dessas memórias resultou a ambição que o trouxe até aqui. Ao longo do tempo, foi reunindo aos quatro hectares originais 23 artigos comprados aos vizinhos até que a Quinta de Lourosa chegou aos actuais 27 hectares – uma área apreciável no universo dos Vinhos Verdes. Para ele, as vinhas que instalou e desenvolveu e que estão na origem do trabalho da filha são bem mais do que um fim económico em si mesmo. São como que a prova final de um trabalho académico de quatro décadas.  

Dos vinhos produzidos na Quinta de Lourosa, só uma ínfima parte fica no mercado nacional. A guerra de preços nas gamas de entrada e a concorrência acrescida numa região onde reside a força motriz do espírito de iniciativa do país, que se constata na proliferação de marcas, forçaram a procura de alternativas no exterior. Mas após a consolidação na exportação, Joana de Castro e Rogério de Castro ensaiam um regresso a casa. Na região de Lisboa têm já um distribuidor e os resultados são “muito positivos”, diz Joana. Em breve será possível que esta estratégia se alargue a todo o país.

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