Fugas - Vinhos

Rui Gaudêncio

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Entrevista com Frederico Falcão: “Portugal tem um preço médio de exportação muito acima de Espanha”

No entanto, a importação de vinho a granel de outros países para ser comercializado como vinho de mesa está a puxar os vinhos que se vendem nas grandes superfícies para valores quase ridículos. Há produtores no Douro que conseguem comprar vinho espanhol a 20 cêntimos o litro. Como é que isto é possível?

Isso é possível porque estamos numa economia aberta. A possibilidade de comprar vinho a granel fora do país, para depois embalar em Portugal, é totalmente legal. O que já não será legal é alguns produtores fazerem passar esses vinhos como sendo portugueses. É por isto que estamos a fazer um controlo mais apertado na rotulagem e, em articulação com a ASAE, a ter mais controlo no mercado. Infelizmente entra em Portugal vinho com preço demasiado baixo, vindo de outros países onde há excesso de produção, nomeadamente de Espanha. Esperamos que esta situação não se mantenha, dado que não é sustentável para os produtores de uva e levará seguramente à falência dos que quiserem enveredar por esse caminho.

O IVV faz algum controlo sobre este tipo de vinho? E será que é mesmo vinho de uvas?

O IVV não tem hoje a competência de análise química e organoléptica dos vinhos. Essa competência é hoje da ASAE. E sim, a ASAE faz de facto fiscalização e está a trabalhar para que legislação seja cumprida. O baixo preço dos vinhos prende-se com enormes produções que alguns países europeus têm tido. Ora um excesso de oferta leva necessariamente a uma quebra acentuada de preço, ainda que não seja economicamente sustentável.

As novas regras de plantação de vinhas na União Europeia prevêem um crescimento de 1% na área de vinha dos países membros até 2030. Portugal necessita deste aumento?

Olhando para a evolução de vinha na Europa, Portugal incluído, deparamo-nos com uma clara tendência de diminuição de área de vinha. Por outro lado, é preciso não esquecer que, no novo regime de vinha, a venda de direitos de plantação ficou vedada. Assim, a única forma para os produtores poderem crescer em área seria através de “novas quotas”. Depois, e aqui houve grande debate entre todos os países e a Comissão Europeia, era preciso definir a percentagem máxima de aumento. Pretendia-se que houvesse um crescimento sustentado da superfície de vinha e não uma abertura total e descontrolada, mais uma vez com a preocupação de evitar a desregulação do mercado de vinho. Creio que o valor de 1% é suficiente para o nosso país e não coloca em risco a estabilidade do mercado. E estou seguro que o mesmo se aplica em termos europeus.

Com este aumento da área de vinha, a União Europeia tenta responder às expectativas de um aumento no consumo mundial de vinho até 2025. Não há o risco de estarmos a plantar vinhas para produzirmos vinhos cada vez mais baratos ou, quem sabe, para virmos daqui a uns anos a subsidiar o seu arranque? Não era a primeira vez…

Sim, não seria a primeira vez…. Mas eu estive muito envolvido nestas negociações e estou perfeitamente convicto que a percentagem de 1% não nos traz um risco de excesso de produção e irá responder às necessidades de crescimento de vinho a nível mundial. Creio ser um valor equilibrado. Defendi-o em 2012 e mantenho-me convicto que é um número razoável. 

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